Do ponto de vista biológico, entre dois seres humanos pode haver uma diferença de 0,5% no DNA. Entre um homem e um chimpanzé, a diferença é de apenas 1,23%. Tal proximidade é demonstrada pelo fato, por exemplo, de chimpanzés poderem ser doadores de sangue para humanos e vice-versa. Hoje também é conhecido que chimpanzés, bonobos e homens tiveram um ancestral em comum há dois milhões de anos.
Diante destes fatos, o mercado ilegal (tráfico de animais para fins diversos) e a exploração comercial dos grandes primatas em laboratórios de pesquisa, circos, espetáculos e zoológicos podem ser considerados como especismo, comparado à escravidão – lembrando o que o homem fazia com seus semelhantes considerados inferiores pela cor da pele até pouco mais de um século atrás.
Esta exploração, combinada à destruição das florestas na África e na Ásia por atividades industriais e comerciais, resulta em uma redução drástica do número de grandes primatas em seus habitats de origem, representando uma grande ameaça às espécies e ao equilíbrio ambiental dos ecossistemas.
O Projeto GAP – Great Ape Project defende o direito dos grandes primatas de viver em liberdade em seus habitats. A partir do momento em que são privados desse direito e passam a ser vítimas de maus tratos, sem condições de viver nas florestas, a missão passa a ser oferecer a melhor qualidade de vida e bem-estar possível aos animais no regime de cativeiro. Em santuários, os grandes primatas são tratados de traumas físicos – extração de dentes e mutilações, por exemplo – e psicológicos – estresse por viverem engaiolados e submetidos à exibição, entre outros – e têm a chance de se recuperar e formarem grupos sociais.
“Um chimpanzé não é um pet e também não pode ser usado como mero objeto de diversão ou cobaia. Ele pensa, sente, se afeiçoa, odeia, sofre, aprende e, inclusive, transmite seu aprendizado. Enfim, é como nós. A única diferença é que não fala, porém se comunica por gestos, sons e expressões faciais. Precisamos garantir seus direitos à vida e à liberdade.” – Dr. Pedro Ynterian, fundador do Projeto GAP Brasil, ex-Presidente Internacional e atual Secretário Geral do Projeto GAP Internacional e proprietário do Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, em São Paulo, afiliado ao GAP.
O Great Ape Project (Projeto dos Grandes Primatas), ou GAP, é um movimento internacional criado em 1994 cujo objetivo maior é lutar pela garantia dos direitos básicos à vida, liberdade e não-tortura dos grandes primatas não humanos – Chimpanzés, Gorilas, Orangotangos e Bonobos, os parentes mais próximos do homem no mundo animal. Para tanto, o projeto criou a Declaração Mundial dos Grandes Primatas, documento que oficializa os direitos creditados a estes animais.
O GAP nasceu a partir de ideias desenvolvidas em um livro de mesmo nome escrito pelos filósofos Paola Cavalieri e Peter Singer, este último considerado um dos precursores mundiais do movimento de defesa de direitos dos animais. No livro, os autores e outros especialistas, entre os quais a primatóloga britânica Jane Goodall, explicam que os seres humanos e os grandes primatas compartilham características como organização social, comunicação e fortes laços afetivos entre os indivíduos, o que lhes conferem inteligência e, consequentemente, direitos muito similares aos nossos.
Atualmente o GAP está presente em 13 países – Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, México, Costa Rica, Espanha, Alemanha, Reino Unido, França, Portugal, Costa do Marfim e Áustria, nos quais representantes trabalham sobretudo na divulgação do propósito da causa dos Direitos dos Grandes Primatas e em ações de mobilização.
No Brasil, o GAP tomou destaque nas últimas décadas pelo trabalho prático de resgate e recuperação de chimpanzés vítimas de maus-tratos desenvolvido em quatro Santuários de Grandes Primatas. Apesar de particulares e independentes, os santuários brasileiros são instituições afiliadas ao GAP, ou seja, comungam de seus ideais na manutenção dos grandes primatas, permitindo o desenvolvimento de comportamentos naturais, apesar da situação de cativeiro, principalmente a convivência em grupos hierarquizados. O precursor – e hoje o maior da América Latina – é o Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, que deu início às suas atividades no ano 2000.
O Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba foi fundado pelo empresário e microbiologista Pedro Ynterian, que foi presidente do Projeto GAP Internacional de 2008 a 2016 e hoje ocupa o cargo de Secretário Geral. Tudo começou quando Guga, então com três meses de idade, foi “adotado” por Ynterian para ser criado em seu apartamento em São Paulo. Rapidamente o empresário percebeu que Guga não era um pet e precisava de um espaço maior e da companhia de outros chimpanzés. Desta forma nasceu o santuário e o interesse pela divulgação dos objetivos do Projeto GAP no Brasil e no mundo.
Organograma Geral
Presidente de Honra: Peter Singer
Presidente: Pedro Pozas Terrados (Espanha)
Vice Presidente: Paulina Bermudez Landa (México)
Secretário Geral: Pedro A. Ynterian (Brasil)