Zoos precisam deixar entretenimento em 2° plano
postado em 30 mar 2011

ENTREVISTA COM SELMA MANDRUCA, PRESIDENTE DO PROJETO GAP NO BRASIL

A advogada Selma Mandruca, presidente do projeto de Proteção aos Grandes Primatas (GAP) no Brasil, critica a situação atual dos zoológicos no País. Para ela, os zoos têm o entretenimento como foco principal e deixam a conservação em segundo plano.

·Como a senhora avalia o papel dos zoológicos para a conservação dos animais hoje?

Para justificar a existência de um zoo, a função dele tem de ser de preservação de espécie e não de entretenimento. O problema é que os zoos no Brasil hoje estão voltados para o entretenimento, com poucos objetivos efetivamente de conservação. Não existe nenhum zoológico aqui no Brasil que faça pesquisas sérias como atividade principal. A gente sabe que eles realizam atividades isoladas. Muitos estudantes conseguem fazer suas teses usando animais desses zoológicos. Mas o grande problema é que eles teriam de se converter em centros de conservação e deixar o entretenimento em segundo plano.

·E a que se deve isso?

Os dirigentes dos zoológicos, principalmente dos zoológicos públicos, veem os zoos como uma grande coleção. Essa mentalidade precisa mudar. Em alguns zoos, a gente já percebe alguma mudança. Mas é algo gradativo e implica troca de pessoas.

·Os mais jovens pensam de forma diferente?

As pessoas de uma geração mais nova têm uma formação diferente. Não veem mais o zôo dessa forma tão pessoal ou como uma coleção de animais. Mas daí a chegar a ser um efetivo centro de conservação é um pulo muito grande.

·Muitos consideram o projeto GAP um inimigo dos zoos. Como responde a isso?

Não queremos fechar os zôos. Mas hoje não faz sentido, com todo aparato que existe de internet, você mostrar às crianças os animais no estado em que eles ficam nos zoos, em completa apatia. Você fala que está fazendo educação ambiental, mas na verdade está confinando um bicho e cobrando ingresso sem um fundamento maior. Não faz sentido trazer um animal da África e colocar numa jaula. Hoje, as crianças ligam a TV e têm lindos documentários mostrando a realidade na natureza./A B


Fonte:
Jornal O Estado (Caderno Vida página A29 de 27/03/2011)