Zoológicos em debate
postado em 16 mar 2011

REVISTA PESQUISA FAPESP
EDIÇÃO 181 – MARÇO 2011

A Revista da FAPESP, no exemplar deste mês, traz uma extensa matéria sobre os zoológicos brasileiros, tentando justificar sua existência nos padrões que existem hoje. O debate é salutar, já que pela primeira vez é dado algum espaço – desproporcional, porém algum afinal – aos que – como nós – questionamos a existência dos zoos, como centros de divertimento do público e não como deveriam ser: unidades de conservação da biodiversidade.

No debate infelizmente se ouve a opinião quase exclusiva de um ex-funcionário do zoo de São Paulo e da equipe atual que o dirige há mais de uma década, e que tenta mostrar que os zoológicos (usando o de São Paulo e o de Buenos Aires como exemplo) não são depósitos de animais pouco representativos de sua espécie, como afirmamos.

O interessante deste debate é que ninguém, salvo nós, defende a suspensão das visitas inconvenientes do público e a ampliação dos recintos dos animais, para que eles tenham privacidade em suas vidas e diminua o estresse emocional, que os transforma em seres perturbados, como tantos chimpanzés que temos recebido de zoológicos brasileiros e internacionais.

Outro reconhecimento é a revelação do Presidente da Sociedade de Zoológicos do Brasil, Luiz Antonio da Silva Pires, de que de 129 zoos existentes no Brasil só 45 estão registrados no Ibama. Existem 84 zoológicos na ilegalidade, onde vivem milhares de animais sem as condições mínimas de existência.

Qual é a função social que os zoológicos cumprem, fora divertir humanos e desinformar os jovens, mostrando animais que não representam sua espécie original? Quantos animais do tráfico são acolhidos nos zoológicos? O próprio ex-funcionário do zoo de São Paulo admitiu que durante sua passagem por aquela instituição, além de proibir a reprodução de espécies, não aceitou receber animais capturados em apreensões, que terminaram morrendo ou em criadouros particulares, muitos deles de duvidosa reputação, que são parte integrante das engrenagens do tráfico de animais.

Os zoológicos podem cumprir um papel na sociedade e ajudar a proteger a biodiversidade. Porém, devem parar de ser uma usina de entretenimento, disfarçada de centros educacionais e de pesquisa, que hoje não o são.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional

Mais informações:
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4358&bd=1&pg=1&lg