Dias atrás o diretor executivo de Projeto GAP na Espanha, Pedro Pozas Terrados, denunciou numa conferência em Paris a política dos zoológicos da Comunidade Européia, que intercambiam grandes primatas constantemente sem respeitar os laços familiares desses indivíduos.
Um ano atrás o Projeto GAP da Espanha também havia denunciado um acordo que estava em andamento para transferir um orangotango bebê de um zoológico espanhol para o Monkey World, no Reino Unido, que é um zoológico particular, tirando o bebê de sua mãe biológica possivelmente por motivações pouco éticas.
Agora aconteceu uma tragédia em Londres, no Zoológico da cidade, onde os grandes primatas vivem em condições precárias. A equipe tentou introduzir um bebê gorila e sua mãe dentro de um grupo já formado, talvez para poupar espaço de recinto, como acontece freqüentemente. O bebê gorila e sua mãe foram agredidos e o bebê de 7 meses morreu, pela irresponsabilidade dos que administram aquele centro.
Logo no início do funcionamento do Santuário do GAP Sorocaba, recebemos dois chimpanzés da Holanda: Simon (Sam) e Rakker. Ambos chimpanzés foram criados juntos desde bebês e como o zoológico daquele país não tinha recintos disponíveis, tentaram a introdução dos dois em um grupo formado de chimpanzés adultos. Sam foi aceito, mas Rakker não. Ele foi agredido selvagemente e quase morreu. Sofreu várias operações para reconstruir seu corpo e até hoje é um ser traumatizado pelo que aconteceu; Rakker tem medo de qualquer chimpanzé, menos de Sam, que o acompanhou da Holanda ao Brasil e vive junto com ele.
Em geral os administradores de zoológicos, tanto na Europa como aqui, pouco se importam com os laços familiares entre as populações de animais que mantém. E no caso dos chimpanzés, quando começamos o nosso trabalho de defesa deles, pudemos constatar como os bebês eram roubados de zoológicos e enviados a intermediários, circos ou a outros zoológicos, sem o menor escrúpulo nem limite. A prática dos zoológicos brasileiros, e possivelmente de outros países, onde o tráfico é intenso, era não registrar os nascimentos, ou dar certificados de falecimento falsos, para poder comercializar os bebês com aqueles que estavam dispostos a pagar por eles. Isso acabou em nosso país, mas não acabou no mundo. Assim como não acabou a irresponsabilidade de administradores de zoológicos de se bancarem como “Deus” e quebrarem os laços familiares de grandes primatas, para satisfazer suas necessidades financeiras.
O crime que aconteceu no Zoológico de Londres no final da semana passada deve ser um alerta para que todas as sociedades rechacem esta política desumana que é praticada com seres indefesos, que são arrancados do seu convívio familiar sem o menor pudor e que muitas vezes termina em tragédia, como o caso deste bebê que foi sacrificado irresponsavelmente no zoológico londrino.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente,Projeto GAP Internacional
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