SANTUÁRIO DE SOROCABA
Durante meses o grupo de Guga viu a construção de uma enorme edificação, a uns 200 metros de distância de sua moradia. Os chimpanzés sabiam que alguém a ocuparia, em algum momento, porém não imaginavam que poderiam ser hóspedes perigosos e predadores até de primatas.
Semanas antes de chegar os novos hóspedes eu estive falando com eles e explicando quem viria para morar lá, apontei para a figura de um leão, de um tigre e de um urso. Na escolinha tem a figura de um leão pintada na parede. Quando mostrei e disse que ele iria morar lá, Emilio pulava e batia na figura do leão, que estava perto do teto.
Dias atrás o comportamento dos chimpanzés mudou. Os que dormiam em um salão da escolinha – Guga, Carolina, Cláudio e Emilio – sumiram de lá. Quando eu chegava muito cedo, ainda escuro, ia lá e ninguém estava. Todos eles pegaram seus cobertores e foram dormir no alto das casinhas externas como uma forma de proteção. Eles sabiam que no alto o risco era mínimo.
Possivelmente os primeiros rugidos do Leão Zeus alertaram à eles que os visitantes perigosos já tinham chegado. Dolores é a única que não se importa. Ela viveu no circo alguns anos em uma carreta, compartilhada com um tigre e um urso, e perdeu o medo deles. Durante o dia ela subia na maior plataforma do recinto, batia palmas e movimentava um cobertor para chamar a atenção do Leão Zeus, a fim de que ele aparecesse em uma janela que tem visão para o recinto dela.
A transferência dos animais do Circo Mágico de Moscou, que desde o princípio de 2008 estavam em nossas instalações provisórias de Vargem Grande Paulista, foi concluída este mês. O leão Zeus, a tigresa Chitara, a ursa Fofa e o Babuino Chiquinho , estão devidamente instalados em recintos amplos, com muita grama para correr e brincar, piscina – especialmente para a ursa e a tigresa – e o babuino, está rodeado de outros de sua espécie (temos 3 grupos de babuinos no santuário), e receberá uma companhia nos próximos dias.
Pouco a pouco no recinto de Guga a normalidade está voltando, e vão se sentindo mais confiantes de que o perigo dos novos hóspedes não é o que pensavam, e agora são companheiros da natureza que os acompanharão nesta vida em cativeiro, que na realidade foi forçada à eles, pelos seus verdadeiros predadores, os humanos inconscientes.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
SANTUARIO DE SOROCABA