Uma filha, e que filha!
postado em 21 nov 2007

LULU: UMA TIA QUE É MÃE

Lulu faz parte do primeiro grupo de adultos que entrou no Santuário. É uma fêmea de grande porte, sendo a maior do Santuário. Ela é dominante, não pela violência ou corpo físico, senão por seu companheirismo. Lulu mora com seu parceiro Gilberto, Ditty e Margareth, e sua filha adotiva Luiza,  que na verdade é filha de Ditty.


Lulu foi mãe muitas vezes, porém nunca conseguiu criar sua prole, que foi vendida para circos e zoológicos. Conosco estão seus filhos, que ela infelizmente não os conhece e eles tampouco conhecem uma mãe tão extraordinária como ela. Este era o triste destino dos chimpanzés no país e ainda é em muitas latitudes do planeta.  O direito a maternidade – um direito inalienável humano – não existe para eles, nossos irmãos esquecidos.


Mônica é sua primeira filha, e talvez a única fêmea, depois Vitor, com um só braço, mas expressa um sorriso em sua face quando qualquer  um de nós aparece para brincar com ele, e segue Carlos, muito parecido com Vitor, que está com o grupo de Guga, e como seu irmão, serão os maiores chimpanzés do Santuário. Por último Cláudio, que também está com o grupo de Guga, com 5 anos de idade, que ao nosso juízo é o chimpanzé mais bonito do Santuário. Mônica, Vitor e Carlos têm o mesmo pai, Flint, já falecido. Cláudio é filho de Gilberto, atual parceiro de Lulu.


Ela teve um bebê no Santuário três anos atrás. Era sua esperança de ter o primeiro para criar, amamentar, acariciar e brincar com ele, porém Vitória morreu na primeira semana de vida, possivelmente prematura, ela não resistiu. Uma semana depois, quando Vitória morreu, nasceu Luiza filha de sua companheira Ditty, que morava com ela. Lulu ficou com Vitória morta durante quatro meses, não interferimos, queríamos provar a ela que era um azar do destino, e que nós somos diferentes. Ela seria dona de sua prole e de sua vida, não nós. Luiza e sua mãe foram para um recinto ao lado, onde por uma janela Lulu viu Luiza crescer, dar seus primeiros passos, comer as primeiras frutas, brincar e correr posteriormente, sem nossa interferência.


Tínhamos medo de juntar o grupo. Abrimos a janela mais para que os braços de Lulu pudessem passar, e o amor entrou por aquela janela como uma ventania saudável. Um dia decidimos juntar Luiza e Ditty com suas tias e o pai, e nos arrependemos de ter aguardado tanto tempo, mais de 2 anos. A integração foi perfeita. Gilberto brinca com a filha com uma delicadeza sem igual. Porém, Lulu ganhou uma filha, e que filha … Luiza é travessa, agitada, provocadora, mantém Lulu em atividade constante, como uma babá dedicada, brincando, observando, até reprimindo quando excede os limites. Se Luiza grita ou chora Lulu sai correndo para ver o que aconteceu, pega no colo e a salva de qualquer perigo. Lulu tem uma diabete incipiente, não sabemos se poderá ser mãe de novo, mas para ela isso já não importa tanto, ganhou uma filha, e que filha!


Dr. Pedro A. Ynterian
Santuário do GAP, Sorocaba – SP
Notícias do GAP 21.11.2007