Uma carta de Phyllis/UNA CARTA DE PHYLLIS/ A LETTER FROM PHYLLIS
postado em 10 set 2008

SANTUÁRIO SAVE THE CHIMPS


O nome de minha mãe é Ana. Ela nasceu na África. Quando ela era um bebê foi seqüestrada pela Força Aérea Norte-Americana e usada no programa de viagens espaciais da NASA.


Meu nome é Phyllis e eu nasci em uma gaiola num laboratório de pesquisas no deserto do Novo México. Após 10 minutos com minha mãe, fui arrancada do peito dela e levada a um berçário por um humano junto a outros bebês chimpanzés. Eu não sei o que aconteceu com a minha mãe. Quando eu tinha um ano de idade fui anestesiada pela primeira vez e me tatuaram o número 630 no meu peito. Nos 32 anos seguintes vivi praticamente sozinha numa gaiola e fui anestesiada 234 vezes para tirar sangue, fazer biópsias e ultra-sons.


Poucos meses após cumprir dois anos entrei no primeiro programa de pesquisa. Fui escolhida para testar cadeira e veículo em movimento. A cadeira era um dispositivo que imobilizava. Minha cabeça e meus pés eram segurados por barras de metal, que deixavam só as minhas mãos livres. O veículo era uma versão horizontal de uma cadeira. Eu fui introduzida em um tipo de uniforme que me cobria o peito, que estava fixado à cadeira para eu não poder escapar. Eu aprendi a mexer em certas alavancas segundo as luzes acendiam. Se a luz era vermelha eu puxava a alavanca esquerda, se era verde, a direita. Se eu fizesse correto, ganhava um pedacinho de uma bananinha ou uma pitada de água, como recompensa. Se eu errasse, recebia um choque elétrico. Para “motivar-me”, não me davam nem comida nem água nas 24 horas antes dos treinos.


No dia do meu terceiro aniversário  gastei 16 horas no treino. Era muito desconfortante e  desenvolvi feridas em meus quadris para tentar libertar-me. A continuação, fui usada por 1 ano em pesquisas de hepatites, sendo submetida a dezenas de biópsias do fígado. No ano seguinte fui usada em estudos sobre gonorréia.


Em 1976, quando já tinha nove anos, entrei no Plano Nacional de Reprodução de Chimpanzés. Minha única tarefa era produzir mais bebês para pesquisas. Eu fui colocada com um macho durante algumas semanas, e assim com outros até conseguir ficar grávida. Quando conseguia ficar grávida, me isolavam até o nascimento dos bebês. Eu fiquei grávida 10 vezes e nunca consegui que o bebê ficasse comigo, por isso me faziam ultra-sons constantes. Os bebês que nasceram, foram tirados de mim aos poucos dias do nascimento para serem criados por humanos. Meu prontuário médico falava que eu era uma boa mãe e ficava deprimida após perder o bebê. Algumas vezes após o nascimento, fui colocada com outros chimpanzés fêmeas na gaiola para melhorar meu astral, eu acho.


Quando eu tinha 33 anos fui anestesiada no laboratório pela última vez, porém eu não sabia nesse momento. Acordei em um caminhão comprido junto com outros chimpanzés e humanos. Após vários dias de viagem o caminhão parou, as portas se abriram e vários humanos começaram a gritar “Bem vindo a seu novo lar na Flórida”. Uma cachorra de nome Éster começou a latir constantemente. Eu fui enviada a um prédio com outros chimpanzés. Reconheci alguns deles: Marty, Emory, Gromek e Wes, todos os quais conheci no programa de reprodução. Também reconheci Emily e Jennifer, que tentaram me consolar após perder vários de meus bebês.


Em pouco tempo todos os chimpanzés estavam morando juntos como uma grande família. Eu não estava mais sozinha. Nos observávamos como as plataformas de madeira eram construídas e ligadas com cordas em uma grande ilha. Um dia as portas que levavam a ilha foram abertas. Lil’ Mini que gosta de confusão, me falou que era nossa chance de escapar. Gromek, porém nos falou que a Ilha era importante para nós. Foi Debbie a primeira que se aventurou fora, depois um a um todos a seguimos.


Poucos anos atrás, comecei a sentir-me cansada. Meus pés inchavam e algumas vezes tinha problemas para respirar. Eu acho que os humanos perceberam algo errado comigo porque começaram a me dar alguns remédios para meu coração. Eu me sinto muito melhor agora, porém não tenho forças suficientes para pegar a Lil’ Mini quando ela me provoca.


Raramente penso acerca de minha escura e solitária vida do passado. Eu tenho passado os últimos 7 anos da minha vida ao sol com minha família. Todos os dias, enquanto comemos nossa refeição nos comedouros internos, os humanos vão dentro da ilha e distribuem amendoim, sementes de girassol, folhas de bananeira e outras surpresas para nós acharmos mais tarde. Temos festas, realmente nós as desfrutamos com presentes, decorações e jogos. Nossa última festa foi o dia 04 de Julho, Dia da Independência, que é o dia favorito de todos. Havia bandeiras azul, branca e vermelha, guloseimas, surpresas e sanduíches vegetarianos para a ceia.


Eu não consigo ser tão rápida como antes nas brincadeiras que Lil’ Mini gosta, porém estou muito mais feliz agora do que nunca em minha vida.


Amor,


Phyllis.


Phyllis e outros 20 chimpanzés foram resgatados em 2001 como um resultado de uma demanda judicial que o Santuário Save The Chimps ganhou contra a Força Aérea Norte-Americana. No ano seguinte, o Santuário resgatou o restante dos 266 chimpanzés que estavam sendo mantidos prisioneiros no Laboratório da Fundação Coulston, Novo México, onde Phyllis nasceu. Entre aqueles resgatados estava uma das filhas roubadas de Phyllis. Seu nome é Jersey e tem agora 12 anos. No dia 31 de Julho de 2008 Phyllis morreu dormindo.


Todas as doações em nome de Phyllis que o Santuário Save the Chimps receba, a Fundação Arcus as duplicará.


(Esta tradução da versão inglesa é uma contribuição do Projeto GAP para que o mundo saiba a dívida que a humanidade criou com seus irmãos chimpanzés, que têm sofrido abomináveis torturas em suas mãos).


SANTUARIO SAVE THE CHIMPS


UNA CARTA DE PHYLLIS


El nombre de mi madre es Ana. Ella nació en Africa. Cuando ella era un bebe fue secuestrada por la Fuerza Aerea Norteamericana y usada en el programa de viajes espaciales de la NASA.


Mi nombre es Phyllis y yo nací en una jaula en un laboratorio de investigación médica en el desierto de Nuevo Mexico. Después de 10 minutos con mi madre, fui arrancada del pecho de ella y llevada por un humano a un cuarto junto con otros chimpancés bebes. Yo no sé lo que sucedió con mi madre. Cuando yo tenía un año de edad fui anestesiada por primera vez y me tatuaran el numero 630 en mi pecho. En los 32 años siguientes viví practicamente sola en una jaula, siendo anestesiada 234 vezes para sacar sangre, hacer biopsias y ultrasonidos.


Pocos meses después de cumplir dos años entré en el primer programa de investigación. Fui escogida para probar sillas y vehiculos en movimiento. La silla era un dispositivo que me inmobilizaba. Mi cabeza y mis pies eran presos por barras de metal, que dejaban solo mis manos libres. El vehiculo era una versión horizontal de una silla. Yo fui introducida dentro de un tipo de uniforme que cubría el pecho, que estaba fijo en una silla para no conseguir escapar. Yo aprendí a manipular algunos controles segun cómo las luzes se encendían. Si la luz era roja yo movía el control para la izquierda, si era verde, para la derecha. Si lo hacía correctamente, ganaba un pedacito de platano o un sorbo de agua, como recompensa. Si yo errase, recibía una descarga electrica. Para “incentivarme”, no me daban comida ni agua en las 24 horas antes de los entrenamientos.


En el dia de mi tercero aniversario gasté 16 horas en entrenamiento. Era muy incomodo y desarrollé heridas en las caderas al tentar libertarme. A continuación, fui usada por 1 año en investigación de hepatitis, siendo sometidas a docenas de biopsias del higado. Al año siguiente fui usada en estudios sobre gonorrea.


En 1976, cuando ya tenía nueve años, entré en el Plan Nacional de Reproducción de Chimpancés. Mi unica tarea era produzir mas bebes para estudios. Yo fui colocada con un macho durante algunas semanas, así como con otros, hasta conseguir embarazar. Cuando conseguía embarazar, me aislavan hasta el nacimiento del bebe. Quedé embarazada 10 vezes y nunca conseguí que el bebe se quedase conmigo, por eso me hecían ultrasonidos constantemente. Los bebes que nacieron, me los retiraron a los pocos dias de nacidos para ser criados por humanos. Mi ficha medica hablaba de que yo era una buena madre y quedaba deprimida al perder el bebe. Algunas vezes, después del nacimiento, fui colocada con otros chimpancés hembras para mejorar mis animo, yo creo.


Cuando yo tenía 33 años fui anestesiada en el laboratorio por ultima vez, pero en esa epoca no lo sabía. Desperté en un camión largo junto con otros chimpancés y humanos. Después de varios dias de viaje el camión paró, las puertas se abrieron y varios humanos comenzaron a gritar “Bienvenidos a su nueva casa en Florida”. Una perra, llamada Ester, comenzó a aullar incesantemente. Yo fui enviada a un edificio con otros chimpancés. Reconocí algunos de ellos, como: Marty, Emory, Gromek y Wes, todos los había conocido en el programa de reproducción. También reconocí a Emily y a Jennifer, que me intentaron consolar después de la perdida de algunos de mis bebes.


En poco tiempo todos los chimpancés estaban viviendo juntos como una gran familia. Yo no estaba mas sola. Nosotros observavamos como las plataformas de madera eran construidas y conectadas con cuerdas en la gran isla. Un dia las puertas se abrieron que nos llevaba a la isla. Lil’ Mini que gusta de confusión, me dijo que era nuestra chance de escapar. Pero Gromek nos dijo que la isla era importante para todos nosotros. Fue Debbie la primera que se aventuró fuera, después todos la seguimos uno a uno.


Pocos años atrás comenzé a sentirme cansada. Mis pies se inchaban y algunas vezes tenía dificultades para respirar. Yo creo que los humanos entendieron que había algo errado conmigo porque me comenzaron a dar unas medicinas para el corazón. Yo me siento mucho mejor ahora, pero no tengo fuerzas suficientes para perseguir a Lil’ Mini cuando ella me provoca.


Raramente pienso en mi vida pasada oscura y solitaria. Yo he pasado los ultimos 7 años de mi vida al sol y con mi familia. Todos los dias, mientras comemos nuestra comida en los comedores internos, los humanos van hacia la isla y distribuyen mani, semillas de girasol, hojas de platano y otras sorpresas para nosotros encontrarlas mas tarde. Tenemos fiestas, y realmente las disfrutamos, con obsequios, decoraciones y juegos. Nuestra ultima fiesta fue el 4 de Julio, Dia de la Independencia, que es el dia favorito de todos. Habían banderas de color blanco, azul y rojo, golosinas, sorpresas y bocaditos vegetarianos para la cena.


Yo no consigo ser tan rapida como antes en los juegos que Lil’ Mini gusta, pero estoy mucho mas feliz ahora que nunca en mi vida.


Amor,


Phyllis.


Phyllis y otros 20 chimpancés fueron rescatados en 2001 como un resultado de una demanda judicial que el Santuario Save the Chimps ganó contra la Fuerza Aerea Norteamericana. Al año seguiente, el Santuario también rescató los 266 chimpancés que eran mantenidos prisioneros en el Laboratorio de la Fundación Coulston en el desierto de Nuevo Mexico, donde Phyllis nació. Entre aquellos rescatados estaba una de las hijas robadas de Phyllis. Su nombre es Jersey y tiene ahora 12 años. El dia 31 de Julio de 2008 Phyllis murió durmiendo.


Todas las donaciones que el Santuario Save The Chimps reciba, la Fundación Arcus las duplicará.


(Esta traducción de la versión inglesa es una contribuición del Proyecto GAP para que el mundo conozca la deuda que la humanidad tiene con sus hermanos chimpancés, que han sufrido tan abominables torturas en sus manos).


SAVE THE CHIMPS SANCTUARY


A LETTER FROM PHYLLIS


My mother’s name was Anna. She was born in Africa. When she was just a baby she was kidnapped by the United States Air Force and used in the early days of NASA’s space travel research.


My name is Phyllis and I was born in a cage at a research laboratory in the New Mexico desert. After just 10 minutes with my mother I was taken to the nursery to be raised by humans with other baby chimpanzees. I don’t know what happened to my mother. When I was a year old I was anesthetized for the first time to have the number 630 tattooed on my chest. Over the next 32 years I lived almost entirely alone in small, dungeon-like cages and I was anesthetized for biopsies, blood samples and ultrasounds at least 234 times.
 
A few months after turning two I entered my first research study. I was chosen for “chair” and “couch” training. The chair was a massive restraint device. My head and feet were held in place by metal bars that left only my hands free. The couch was a horizontal version of the chair. I was fitted with a special suit that covered my torso, which then laced to the container so I was unable to escape. I learned to push certain levers in response to flashing lights. If the light was red I pulled the left lever and if green I pulled the right lever. If I pulled the correct lever I would get a banana pellet or a sip of water as a reward. If I pulled the wrong lever I would receive an electric shock. To “motivate” me, I wasn’t given any food or water for 24 hours before each training session.
 
On my third birthday I spent 16 hours strapped to the couch. This was very uncomfortable and I developed lesions on my thighs from struggling to get free. Next, I was used for a year in hepatitis research, which required I submit to dozens of liver biopsies. The following year I was used in a gonorrhea study.


In 1976, at the age of nine, I entered the National Chimpanzee Breeding Plan. My sole job now was to produce more research subjects for the lab. I was paired with a male for a few weeks and if I didn’t become pregnant I was paired with another male until I did. Once I became pregnant I would live completely alone until the baby was born. I got pregnant ten times and almost every other time the baby did not survive, which is why I had so many ultrasounds. The babies that did live were taken from me within days to be raised by humans. My medical record says I was a good mother and appeared depressed after my babies were removed from my care. Sometimes after giving birth, I was briefly caged with another female chimp in an effort to cheer me up I guess.


When I was 33 years old I was anesthetized in the lab for the last time, although I didn’t know it at the time. I woke up in a long truck with some other chimpanzees and humans. After several days of traveling the truck stopped, the doors opened and the humans started saying, “Welcome to your home in Florida!” A dog named Ester, who I later learned to ruthlessly tease, barked at us. I was moved into a building with other chimps. I recognized some of them: Marty, Emory, Gromek and Wes, all of whom I knew from the breeding program. I also recognized Emily and Jennifer, who had tried to cheer me up after my babies had been taken away!
 
Pretty soon all of us chimps were living together as a big family. I was no longer alone. We watched as wooden platforms were built and ropes were hung on a big island. One day the doors that led to the island were opened. Lil’ Mini, who loves trouble, said it was our chance to escape. Gromek, however, said the island was meant for us. Either way, it was Debbie who, without hesitation, went outside first and one by one we all followed her through the open doors.


A few years ago I began to feel tired all the time. My feet were swollen a lot and sometimes I had trouble catching my breath. I guess the humans noticed something wrong too because they started giving me special medicine for my heart. I feel much better now but am no longer fast enough to catch Lil’ Mini when she misbehaves.
 
I rarely think about the dark and lonely place I lived most of my life. I have spent the last seven years in the sun with my family. Every day, while we eat our meals inside, the humans go onto the island and scatter peanuts, sunflower seeds, banana leaves and other treats for us to find later. We even have parties; really we do, with themes, decorations and gifts. Our last party was the Fourth of July, Independence Day, which of course is everyone’s favorite! There were red, white and blue streamers, bags full of goodies and veggie sandwiches for dinner.


Much to Lil’ Mini’s delight I am not as fast as I used to be, but I am happier now then I have ever been.


Love,


Phyllis



Phyllis and twenty other chimps were rescued in 2001 as a result of a lawsuit filed by Save the Chimps, Inc. against the United States Air Force. The following year, Save the Chimps rescued the rest of the 266 chimps being held captive at the lab in the New Mexico desert where Phyllis was born. Among those rescued was one of Phyllis’ children. Her name is Jersey and she is now 12 years old. On July 31, 2008, Phyllis died in her sleep.


The Arcus Foundation will match all donations to Save the Chimps in Phyllis’ name.