No último dia 19 de janeiro estive no zoológico de Pomerode, cidade do interior de Santa Catarina. Estava em viagem de férias em Balneário Camboriú e aproveitei para conhecer Pomerode, uma cidadezinha pitoresca, de colonização alemã. Já tinha ouvido falar que lá havia três chimpanzés, por isso resolvi dar uma passadinha para conhecê-los.
Andei por todo o zoo, deixando o motivo da minha visita por último. Fiquei impressionada com a proximidade que o público tem dos animas, a maioria dos recintos, inclusive dos felinos, fica acessível ao público, separado apenas por um corrimão. Mas ao contrário da maioria dos lugares, o público que estava lá – inclusive uma turminha de crianças de parecia ser de alguma escola ou creche – nem tentava transpor as pequenas barreiras que o separava dos animais. Não havia ninguém gritando, nem tentando jogar comida para os animais, tampouco alguém cedia à tentação de se aproximar do recinto de uma tigresa que se apoiava do alambrado para banhar-se e olhava todos os visitantes com curiosidade.
Percebi que por todo lugar, havia placas pedindo para que o público não gritasse nem alimentasse os animais, mas isso sabemos, muitas vezes de nada adianta, os visitantes querem não só ver os animais como querem de qualquer forma interagir, nem que para isso seja necessário jogar objetos nos animais.
Ao chegar no recinto dos chimpanzés me aproximei, olhei, procurei e nada, eles não estavam lá. Fiquei ali por alguns minutos, tirando fotos do recinto vazio e pensando que talvez os chimpanzés deveriam estar presos, pois não havia nem sinal deles. Já havia praticamente desistido, quando resolvi tentar falar com o veterinário responsável. O Dr. Marcus Vinicius Candido me recebeu com certa desconfiança, pois eu pedia para ver os animais e os cambiamentos internos. Ele esclareceu que não tinha autorização para permitir a entrada, mas que os animais estavam lá, mas deveriam estar na área interna. Prontificou-se a levar alguma comida e chamá-los e assim fez, alertando-me que caso não quisessem aparecer, não os obrigaria a sair do recinto. Qual não foi minha surpresa ao ver que os chimpanzés estavam dentro do recinto, com a porta que dá acesso à área externa fechada, mas podiam abri-la se quisessem. Como o Dr. Marcus estava oferecendo algumas frutas eles mesmos levantaram a porta, observaram para ver se o que lhes era jogado interessava e só então saíram calmamente pegando e comendo as que preferiam. Conversando com o veterinário, ele explicou que a “política” que tem com os animais é a de permitir que eles fiquem ou não expostos, como quiserem, eles não obrigam os animais a ficarem em exposição. O recinto em que os chimpanzés vivem é bem simples, com umas plataformas e um pequeno tanque com água, mas a atitude de permitir certa liberdade me chamou a atenção, por ser de extrema importância para os animais. Sabemos que a maioria dos locais que possuem animais em exposição, nos horários em que há visitação o animal é obrigado a sair e a entrada para os cambiamentos internos é fechada (isso quando há cambiamento), obrigando-o a ficar exposto, muitas vezes em recintos sem qualquer ponto de fuga.
Outras curiosidades que pude observar dizem respeito ao grupo, são três chimpanzés, dois machos e uma fêmea, bem tranqüilos mas não são castrados, sendo que um dos machos, originário de um circo, não possui dentes e apesar disso é o dominante. Ele ficou o tempo todo analisando as atitudes do outro e quando este se afastava um pouco, ele gesticulava, como que avisando que não era para o outro ficar longe. Como estava muito calor, logo o macho cansou-se de ficar na área externa e entrou novamente, fechando a porta parcialmente, de modo que pudesse avistar os demais que ainda estavam fora.
Apesar da simplicidade do recinto, essas pequenas coisas, tanto da parte do público que respeita as regras de um modo geral, quanto da parte dos responsáveis pelo zôo que procuram, dentro de tantas limitações, oferecer o mínimo de respeito ao grande primata, achei o zoológico de Pomerode um lugar diferente que certamente poderia servir de exemplo para muitos outros.
Dra. Selma Mandruca
Coordenadora do Projeto GAP – Brasil