SANTUÁRIO DE SOROCABA
Jimmy conhece o motor do meu carro e me aguarda. A esta hora da tarde geralmente o visito, levo alguns agrados e desta vez estou acompanhado. Ele não vê a pessoa, mas sua voz lhe é familiar. O passado terrível volta a sua memória. Aquela voz repetindo seu nome era uma mistura de esperança e desespero. Roched Seba me acompanhava neste dia. Jimmy o viu e ficou arrepiado, mas só por alguns segundos. Jimmy sabia que Roched era seu único amigo, no último ano em que passou no inferno do Zoonit (Zoológico de Niterói). Rapidamente, se acalmou e veio para saúda-lo pela tela.
Roched levava consigo algumas gomas que Jimmy gostava de mascar. Deu algumas a ele, mas Jimmy estava é interessado nele, em agradecer-lhe de alguma forma o tempo que lhe dedicou, às pinturas que ele lhe ensinou a fazer, o diálogo que com ele mantinha. Até o dia em que entrou sem autorização em seu recinto, para dar-lhe um abraço, o que ninguém tinha feito possivelmente em toda sua vida.
Samantha se junta a nós. Jimmy se retira, para advertir seu amigo que ela não o conhece e pode ser perigoso. Minutos mais tarde dois “pontinhos” vão se perfilando e vindo até nós. Sofia e Sara chegam, e se juntam a Jimmy. Elas começam a perturbar e não deixam Jimmy “conversar” com seu amigo humano.
Vamos pelas janelas de fora, onde a intimidade é maior, já que os braços passam e o contato é mais íntimo. Jimmy dá um beijo em Seba, ele retribui. Sara sobe na janela e bate no peito do amigo humano. Jimmy a afasta e com uma expressão – da forma que os chimpanzés se comunicam – dá a entender que ele é um amigo, e nos amigos não se bate, não importa até que ela seja um bebê. Aquele pequeno gesto de Jimmy fala mais que qualquer outra expressão e centenas de palavras. Só alguém que sabe os valores da vida pode reagir assim.
Roched Seba é um jovem carioca que está fazendo mestrado em Engenharia de Produção e dedicou mais de um ano de sua vida a visitar Jimmy e ajudá-lo a suportar a solidão e o assédio do público, num recinto ínfimo de um zoológico que nunca deveria ter existido desse jeito.
O jovem Roched insistiu muito para visitar o Santuário de Sorocaba. Veio expressamente para ver Jimmy e voltou nesse mesmo dia para o Rio. No dia 3 de julho estará em Utrecht, Holanda, numa conferência internacional chamada “Minding Animals”, onde grandes personalidades e protetores de animais se farão presentes. Roched está fazendo uma tese de mestrado sobre “como deve ser o zoológico no futuro”. Conversamos bastante. Eu relatei minhas experiências e opiniões. Ele visitou outros chimpanzés do Santuário, deu mamadeira à Suzi e ficou fascinado. Nesse instante, entendeu o porquê de nossa insistência de tirar Jimmy do inferno e transportá-lo para um lugar decente e apropriado, onde poderá viver – como já vive hoje – com seus iguais.
Roched Seba nunca mais defenderá a idéia de manter os chimpanzés em cativeiro para exibição pública. Os chimpanzés de Sorocaba deram a mensagem clara, em alto e bom som para ele: “não somos troféus nem bichos de estimação; somos pessoas como você e temos direitos a serem respeitados”. Roched Seba agora entendeu!
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: http://www.anda.jor.br/29/06/2012/um-pequeno-gesto
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