REVISTA ÉPOCA
Não está longe desta frase ser oficializada. Para nós, que os conhecemos profundamente, há anos já a aceitamos. Numa matéria da revista Época do fim de semana passado, edição n° 516, a jornalista Marcela Buscato conta a história do chimpanzé Nim Chimpsky, que foi criado em Nova York entre humanos.
A história é relatada no livro “Nim Chimpsky: The Chimp Who Would be Human”, pela jornalista norte-americana Elizabeth Hess. A jornalista também questiona o uso de um primata como ele em estudos não invasivos, e afirma que após o estudo ele foi dispensado, como um objeto, e volta para sua vida engaiolada, machucando seu espírito.
Segundo a ÉPOCA:
“Em seu livro, Elizabeth Hess afirma que até pesquisas consideradas não-invasivas, como as de comportamento, poderiam causar sofrimento. Nim foi a figura central de um estudo da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, realizado na década de 1970. O psicólogo Herbert Terrace queria ver se um animal seria capaz de aprender a linguagem dos sinais. Seu objetivo era contestar a tese do lingüista Noam Chomsky de que nós, humanos – e só nós -, nascemos programados para aprender a falar. O nome do primata era uma mistura de Chimp, chimpanzé, com Chomsky. Desde os 10 dias de idade, Nim Chimpsky foi criado por pesquisadores e voluntários em duas casas em Nova York. Era colocado para dormir depois de tomar chá adoçado com mel e ouvir uma história. Mas, quando os pesquisadores perceberam que Nim dificilmente conseguiria formar frases complexas, mandaram o animal de volta à jaula, no centro onde nasceu.”
A parte ruim desta matéria é depoimentos de dois pseudocientistas que usam os primatas em suas experiências, e ganham notoriedade. Frans de Waal é mencionado na matéria afirmando: “É provável que um animal tão próximo aos humanos sinta as emoções de maneira muito parecida com a gente”, porém ele não é contra experimentos do tipo que foi feito com Nim, já que ele usa chimpanzés na Universidade de Emory com o mesmo fim. Apenas acrescenta com certo desprezo: “Só acho que, depois que o estudo acaba, não podemos nos eximir da responsabilidade com o bicho …” (trata o chimpanzé que lhe tem dado notoriedade e riqueza, como um bicho qualquer).
Porém a declaração mais estapafúrdia vem daquela pessoa que criou Nim durante o estudo, a psicóloga experimental Laura-Ann Petitto, que não acredita que o chimpanzé tenha sofrido tanto quanto sua biografia sugere. Ela que não se importou de abandonar um ser que criou desde bebê, o apresenta como um ser que pode matar.
Entre as barbaridades que ela declara veja esta:
“ÉPOCA – A senhora acredita que Nim sofreu com a falta dos humanos com quem estava costumado?
Laura-Ann – Os chimpanzés são profundamente diferentes de nós. Eles não têm a arquitetura para sentir saudade da mesma maneira que um humano. Chimpanzés não formam laços baseados no apego emocional, e sim com base na disponibilidade imediata de recursos. Para um chimpanzé, se Mary o alimenta na segunda-feira e Bob na terça-feira, o laço na terça é com Bob. Se Mary entrar na sala, o instinto seria o de atacar para matar. Porque Bob tem a comida. Nenhuma criança faria isso.”
Nós que convivemos anos com eles, podemos garantir que o que ela fala não é certo, e que ela não sabe nada de chimpanzés. Nunca nossas experiências e convívio com eles, nos colocaram em risco de morte, porém na sociedade humana vivemos com esse risco constante. Não sabemos suas razões, mas parece que esta “falsa mãe de criação” de Nim não gostou do livro publicado, e sua participação nesta extraordinária experiência.
Após humanizá-lo totalmente, terminada a experiência, Nim foi enviado para um refúgio de animais, onde viveu 17 anos, tentando desesperadamente comunicar-se com os visitantes, pela linguagem de gestos aprendidos na infância. Somente seres humanos sem emoções podem fazer isto com um ser que já nasceu humano.
Nim morreu jovem, aos 26 anos, talvez desejando nunca ter sido humano.
Dr. Pedro A. Ynterian
Diretor do Projeto GAP Internacional
Notícias do GAP 10.04.2008