Um amigo que se foi
postado em 15 abr 2015

Durante várias horas, em silêncio, um grupo de chimpanzés, com aspecto sombrio e olhar entristecido, circula em volta de corpo de um querido amigo que acaba de morrer inesperadamente, fulminado por um ataque cardíaco.

Eu já presenciei essa cena, com suas diferenças, e é impressionante perceber como os chimpanzés respeitam os seus mortos e não se conformam com a partida inesperada de alguém.

A cena do início se repetiu no maior Santuário de Chimpanzés do Planeta, o Save the Chimps, quando aconteceu a morte de Renquist, um querido e amado chimpanzé de 24 anos de idade.

Renquist nasceu na Base da Força Aérea Norte-Americanca de Holloman, em Alamogordo, Estado do Novo México, no dia 13 de fevereiro de 1991. Foi tirado de seus pais, Kitty e George, com pouco mais de um ano, sofrendo já o primeiro impacto de ser um prisioneiro em mãos de humanos sem consciência.

Ele foi colocado num grupo de jovens, incluindo Roger, que foi seu amigo até sua morte. Foi anestesiado várias vezes por ano para avaliação de sua saúde, porém, não se conhece se foi incluído em algum programa de tortura médica, como era habitual na época, ou em experiências traumáticas naquela Base, onde morreram muitos chimpanzés em testes absurdos.

Quando a Força Aérea cansou de torturar os chimpanzés, os enviou a um Centro ainda pior, a Fundação Coulston, que era vizinha no Estado. Mas a sorte de Renquist virou radicalmente em setembro de 2002, quando o Santuário Save the Chimps comprou as instalações quebradas da Fundação com mais de 200 chimpanzés torturados em seu interior.

Na Flórida, para onde foi transferido, ficou inicialmente com o grupo chamado de Bobby, mas terminou no grupo onde estava seu amigo Roger, que o ajudou na integração com os membros restantes.

Renquist era um chimpanzé que cortejava as fêmeas, as quais acompanhava e com as quais passava grande parte do tempo na área externa da Ilha. No fim ele pisou pela primeira vez na grama quando tinha mais de 10 anos de idade.

Renquist era muito querido por seus tratadores, que ficaram muito abalados pela sua morte súbita, quando aparentava excelente saúde. Até nisso os chimpanzés nos surpreendem. Roger e seu grupo ainda choram sua morte.

Dr. Pedro A. Ynterian

Presidente, Projeto GAP Internacional