Durante mais de 30 anos, Catarina, chimpanzé de pequeno porte, apática, calma, viveu a rotina do circo, sendo apresentada em espetáculos e sendo levada a visitas a escolas e eventos, assim como em diversos programas de TV. Conhecemos muitos chimpanzés e Catarina já não é mais um deles. Ela aprendeu a sobreviver na rotina de sua vida e só pede que lhe façam carinhos. Ela pode ficar uma hora com alguém fazendo carinhos em suas costas. Ela acha que dessa forma agrada a todos, consegue sobreviver e ter momentos de sossego sozinha no interior de sua jaula de transporte, que já percorreu o Brasil várias vezes.
A irresponsabilidade de usar Catarina dessa forma é enorme. É inacreditável que os órgãos de segurança de Minas Gerais e de outros estados e cidades tenham permitido até hoje que ela andasse pelas ruas, escolas, estúdios de TV e lugares mais expostos da sociedade, sem calcular que um dia UMA TRAGÉDIA PODERIA ACONTECER. Travis também andava pelo centro da cidade e fazia programas de TV. Um dia roubou as chaves do seu quarto, fugiu e quando Carla Nash tentou capturá-lo, sua vida quase acabou.
Mais de 11 chimpanzés foram mortos a tiros nas ruas dos Estados Unidos porque um dia decidiram não mais se submeter aos homens como animais de estimação, a fim de descobrir o mundo e seus perigos. O IBAMA tomou a única atitude responsável que era cabível, quando outros setores do Estado, diretamente responsáveis pela segurança da população, se omitiram. A Polícia Federal também apoiou a ação, já que não é a primeira vez que um policial tem que agir contra um ser selvagem que escapa do seu cativeiro.
O péssimo exemplo para a sociedade do uso de um chimpanzé como se fosse um “pet” andando por aí, sem a mínima segurança, sem equipamentos de contenção química e física, demonstra um aspecto que representa como ainda se violam as leis e poucos se importam com a vida em nossas comunidades.
Catarina foi domesticada, para dizer o mínimo, à base do sofrimento. Nenhum chimpanzé se converte em dócil porque assim nasceu. Os chimpanzés compartilham nosso DNA e nosso sangue, somos praticamente iguais, e se o ser humano é violento e o demonstra dia-a-dia, minuto a minuto, semeando cadáveres no planeta, o chimpanzé também o é; e a violência e agressividade abrigadas em seu interior estão prontas para explodir no momento mais inesperado.
Catarina, que está agora no Santuário do GAP em Sorocaba conhecendo outros chimpanzés, no início se apavorou. Depois começou a reagir e a comunicar-se vocalmente com eles. Num futuro talvez ela possa fazer o “grooming” e ser acariciada por outro chimpanzé e não mais por um humano que nunca a conseguiu entender.