No norte da República Democrática do Congo e no sul da República Centro-Africana (coração da África) trava-se talvez a última das lutas que uma espécie chimpanzé – os Pan troglodytes schweinfurthii – mantém pela sobrevivência em seus recônditos refúgios selvagens. Na região conhecida como Bili-Uéré, os chimpanzés não tinham medo dos poucos humanos que encontravam. Não tinham caçadores emboscados, nem armadilhas na espera de sua presa, flechas envenenadas não acertavam os corpos dos primatas que balançavam nas árvores, leões, elefantes e uma dezena de outras espécies de primatas os acompanhavam na vida diária, cada um cuidando de seu território e de suas famílias.
Isto parece que está destinado a ter um fim trágico nos próximos meses. A tribo local decidiu quebrar um acordo que tinha com a Fundação da Vida Selvagem de Wasmoeth e o conservacionista Karl Ammann, para dar suporte às comunidades humanas que lá existiam e que retribuíam com proteção da biodiversidade. Em poucos meses, milhares de mineiros artesanais se instalaram na área e os membros da Fundação tiveram que abandonar a região.
O problema dos mineiros recém-chegados é que não respeitam a biodiversidade, consomem tudo, incluindo os animais da região. Comparando, as tribos locais estão acostumadas a conviver com os primatas e outros animai e têm até restrições de usá-los como alimento, já que consideram que é algo maléfico.
Os pesquisadores que lá têm trabalhado, dirigidos por Thurston C. Hicks, do Instituto da Biodiversidade da Universidade de Amsterdã – que nada conseguiram fazer para impedir esta invasão de congoleses e outras etnias dentro de um ambiente que era totalmente preservado – cansaram de ver bebês chimpanzés nas vilas ao sul do Rio Uele sendo oferecidos para venda por poucos dólares. Considera-se que todos aqueles bebês, que foram vistos em 2009, hoje não estão mais vivos. E teme-se que outras centenas também não durem mais que poucos meses nas mãos de caçadores e seus intermediários.
A tragédia que está acontecendo no norte do Congo é terrível. Sem Santuários – o de Lwiro está saturado – para receber mais órfãos, o destino daqueles infelizes que perderam seus pais e parentes caçados com flechas envenenadas é, na realidade, a morte.
Pelo que vemos, a humanidade vai ficar calada e cúmplice ante este massacre dos nossos irmãos hominídeos, com quem nos ligam laços profundos de história e de sangue!
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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