No dia 06 de janeiro passado, devido ao temporal da madrugada na região de Sorocaba e chuvas muito fortes, o Santuário estava sem energia elétrica, porém já tínhamos marcado a cirurgia para o chimpanzé Tião, e não era prudente adiá-la. Tião, que está conosco há mais de dois anos, foi infectado por um berne, que ele mesmo tentando tirá-lo, acabou convertendo num abscesso, na zona esquerda do abdome. Os chimpanzés se perturbam muito com ecto-parasitas, e daí a prática do “grooming”, para limpar a pele uns aos outros. No caso dos bernes é mais complicado, já que são endo-parasitas, que ficam sob a pele, crescem, perturbam muito e não são fáceis de tirar quando são pequenos.
O Dr. Giancarlo Cavalli Polesello, cirurgião, e seu assistente Dr. José Maria Bedran, médicos da Santa Casa de São Paulo, chegaram às 09:00 h para fazer a cirurgia. A Dra. Camila Gentili, médica veterinária, já estava preparando Tião com a anestesia, que ele deixou injetar em seu braço espontaneamente. Tião tem aproximadamente 11 anos de idade, pesa quase 100 quilos e é muito forte. Quatro tratadores o levaram para a nossa clínica, quando ele ficou desacordado.
A cirurgia foi rápida, já que o abscesso não era profundo, porém o corte foi grande, para atingir toda a zona que ficou infeccionada. Foi feito o curativo, deram antibióticos de terceira geração a fim de evitar novas infecções, já que a ferida ficou aberta, para que cicatrizasse de dentro para fora que é a prática mais comum, em especial com chimpanzés que tentam tirar os pontos após as cirurgias.
Às 14:00 h Tião já estava se recuperando, tirou o curativo, porém não mexeu na ferida, que como era grande, deve ter se surpreendido. Já que ele durante semanas tentava tirar o berne e o pus apertando a ferida que tinha um furo pequeno, e chegou a introduzir gravetos dentro da ferida para ver se resolvia por sua conta. Ao abrir o abscesso foi encontrado objetos estranhos dentro do mesmo, que ele tinha introduzido.
Durante vários dias Tião ficou separado do seu grupo, o qual estava muito curioso sobre o que tinha acontecido com ele, e tentavam ver a ferida em seu abdome. Chimpanzés são muito preocupados com feridas, machucados, sangue, etc. e tentam curar tudo com saliva. Ele se deixava curar pela Dra. Camila todos os dias e pelos tratadores, que colocavam Rifocina spray na ferida e pomada cicatrizante. Após 10 dias ele se juntou ao seu grupo, especialmente Noel e Dolores, que queriam ver a ferida, e o grupo de Guga pela cerca também queria vê-la. Ele mostrava a ferida, já em franca cicatrização, porém não deixava mexer nela. Em duas semanas já estava praticamente fechada, e ele não se preocupava mais com ela.