Quando o ambientalista de Sorocaba e grande colaborador do Projeto GAP, Gabriel Bitencourt, nos procurou semanas atrás com a ideia de fazer uma campanha pela transferência do chimpanzé Blackie do Zoológico de Sorocaba para o Santuário de Grandes Primatas desta cidade, aceitamos ser parte integrante da iniciativa; porém, sabíamos que os inimigos do bem-estar animal não ficariam em silêncio.
Após várias semanas de campanha, iniciada pelo Facebook do Gabriel, a quantidade de apoio obtido é imensamente superior em relação aos poucos que se posicionaram contrários. A maioria dos deputados ambientalistas tem contatado o Prefeito de Sorocaba, dando apoio à iniciativa e respaldando a sua decisão, caso positiva. A própria ONU enviou uma carta ao Prefeito recomendando com celeridade o traslado.
Blackie vive há mais de 40 anos naquele Zoológico. Sua companheira, Rita, morreu em 2011, prematuramente, como tínhamos antecipado, quando o Zoológico conseguiu tirá-los do Santuário, anos atrás, onde estavam refugiados temporariamente enquanto reformavam seu recinto.
A história do Santuário e do Projeto GAP têm sido de colaboração quando um Zoológico nos procura para entregar algum primata que está em condições inadequadas em suas instalações. Nós não somos colecionadores de animais, como os Zoológicos são. A nossa missão é salvar a vida e dar condições de existência decente a todos os grandes primatas que precisem da mesma.
Todos os chimpanzés que recebemos de zoológicos foram por vontade própria de cada Instituição. Assim sucedeu com Caco, do próprio Zoológico de Sorocaba; Lilico, do Zoológico de Bauru; Pongo, do Zoológico de Belo Horizonte; Leo, do Zoológico de Brasília; Charles, do Zoológico de Ribeirão Preto; Bongo, do Zoológico de Portugal; Simon e Rakker, do Zoológico da Holanda; Francis e Queenie, do Zoológico de La Paz na Bolívia; Toto, do Zoológico de Leme; Martin, Jamaica e Maria, do Zoológico Boa Luz de Sergipe; Johnny, do Zoológico de Curitiba e July, do Zoológico de Piracicaba. Só no caso de Jimmy, do Zoológico de Niterói (Zoonit), a decisão foi do IBAMA e da Justiça, fechando aquela instituição que tinha se convertido em um centro de tráfico de animais.
Em dois casos que disputamos a entrega com a direção do Zoológico, os resultados foram trágicos. O primeiro caso, em Salvador, quando o Habeas Corpus liberando Suíça ia ser emitido, contra a vontade do Zoológico, ela apareceu morta sem explicação plausível. No segundo caso, a direção do Zoológico de Americana, em conluio com circenses e outros zoológicos, boicoteou a operação de resgate, alimentando secretamente o chimpanzé Alemão, que ao ser anestesiado por nossa equipe, assumindo que estava em jejum, poderia ter ido a óbito. Mais tarde Alemão terminou morrendo prematuramente, como prevíamos, no Zoológico de Sorocaba, que o acolheu para tratamento e se negou a nos entregá-lo quando oferecemos a nossa assistência médica, que era muito superior a de qualquer Zoológico.
Resumindo 16 chimpanzés chegaram ao Santuário por vontade própria de zoológicos; os dois casos em que os Zoológicos se opuseram terminaram em tragédia.
Hoje recebemos a informação que a direção do Zoológico de Sorocaba – desafiando até o próprio Prefeito – decidiu fazer uma campanha com os visitantes e vão solicitar assinaturas para que Blackie não seja transferido.
Desde o início da campanha, falamos que a questão não era Santuário versus Zoológico. Era por uma vida decente com seus iguais, para um chimpanzé que já tinha sofrido demais, sendo explorado como entretenimento humano.
Sinceramente, a nossa experiência passada nos leva a tomar uma decisão: a partir de agora interrompemos a campanha para transferir Blackie do Zoológico de Sorocaba para o Santuário, já que a maldade humana é imensa e isto pode cobrar um preço que nenhum de nós que amamos os chimpanzés e os animais em geral estamos dispostos a pagar: a morte dele.
O Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba não se responsabiliza mais em receber o Blackie, já que não podemos garantir a sua segurança conosco, que terminará sendo, como muitos outros, um arquivo vivo das consequências da vida miserável que um primata leva numa Instituição dessas, que só o enxerga como um valor a ser explorado.
Esperamos que todos os ambientalistas e defensores dos animais nos entendam. Queremos receber o Blackie feliz para viver entre seus semelhantes e não o seu cadáver.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional