Os Grandes Primatas sempre estiveram associados com grandes mulheres, que os descobriram para o mundo, e começaram a luta por seus direitos em nossa sociedade. Jane Goodall com os chimpanzés, Birute Galdikas com os orangotangos e Dian Fossey com os gorilas. Seguindo a trilha duas grandes mulheres francesas, uma na República do Congo, e outra no Congo Brazzaville, mantém Santuários e Projetos em terras conturbadas pela violência, a destruição das florestas e a exploração arrasadora das riquezas naturais.
Claudine André fundadora do Santuário LOLA YA BONOBO, em Kinshasa, conta a sua história para uma entrevista do PGS/ GAP da Espanha. Tudo começou há mais de uma década, após os graves conflitos de 1991, quando Kinshasa entrou em colapso pela guerra civil, e ela teve que abrir as portas do zoológico local, que estava fechado pelo conflito. O que ela achou comoveu a sua alma. Ela relata “abri a porta do zoológico e minha vida mudou”, e comentou para o seu marido “não podemos tolerar isto …”. Salvaram o zôo, os animais e as pessoas que lá moravam, e o converteram em um lugar aceitável.
Aquela experiência a convenceu de que a conservação começava pela educação, e começou a ensinar as crianças e jovens da importância da preservação e do respeito aos Grandes Primatas. Cada dia mais bonobos chegavam às cidades, os adultos caçados para serem comidos, e os bebês para serem vendidos. Outro fato que lhe mostrou o zoológico foi quando um bebê bonobo chegou a suas mãos quase morrendo. O Diretor do zoológico lhe falou “Claudine, não deposite tuas esperanças nesse bebê, já que os bebês bonobos têm uma mortalidade de 100% em cativeiro, são diferentes dos chimpanzés e não poderá sobreviver sem sua mãe …” E aquele bonobo foi o primeiro sobrevivente, o levou para sua casa, e essa experiência criou a necessidade de um Santuário, o LOLA YA BONOBO, único no mundo, que hoje tem 55 indivíduos entre seus hóspedes.
Claudine é muito pessimista quanto ao futuro. Ela acha que enquanto não se controlar a caça, a pobreza, o contrabando de armas, os bonobos continuarão morrendo por dezenas, e os bebês órfãos chegando às cidades. Ela aposta em algo desconhecido para proteger os bonobos, que não chegam a 10.000 em vida livre, em uma zona da República do Congo delimitada pelos Rios Congo e Kasai. O desconhecido é o vírus misterioso que circula pela floresta tropical úmida, e que ainda não fez contato com o homem. Aqueles vírus, como o EBOLA e SIDA na época, são potencialmente perigosos para os humanos, porém não para os primatas não-humanos. O homem deixou por medo então de caçá-los, comê-los, vendê-los, não penetraram mais fundo naquelas florestas, e eles poderão talvez sobreviver alguns anos mais, ante esse terrível inimigo potencial.
A história em Brazzaville não é muito diferente. Aliette Jamart mora em Pointe Noire, no Congo francês, a beira do Atlântico. Ela conheceu um chimpanzé que seu dono passeava pela cidade, seu dono morreu, e o chimpanzé desapareceu. Ela o buscou insistentemente sem encontrá-lo, até que lhe falaram que estava no zoológico local. Seu marido lhe falou que não entrasse naquele local, já que era um local ruim. Ela entrou, achou o chimpanzé perdido lá morando em um cubículo exíguo, encima de suas fezes, sem comida e sem pêlo, como muitos outros primatas e animais. A situação era desesperadora, era uma cena de horror. Pegou o chimpanzé e o seu companheiro, e o levou para sua casa. Isto iniciou seu projeto, em 1989, hoje chamado HELP CONGO.
Aliette posteriormente, após ter recuperado dezenas de chimpanzés, começou o seu projeto de soltura. Algo muito difícil, e que tem dado resultados duvidosos em outras regiões, já que o chimpanzé de cativeiro não se adapta facilmente a vida livre, e a enfrentar os perigos que essa vida lhe apresenta. De todas formas, ela insiste em seu projeto, e tenta viabilizá-lo em uma zona de floresta chamada O Triângulo, onde os chimpanzés têm que se valer por eles mesmos, e enfrentar predadores e os humanos. Eles seguem o grupo com suas antenas e seus transmissores, entre mil dificuldades, porém, acha que vale a pena tentar, e pensam que podem vencer todos os obstáculos. Os chimpanzés talvez, não estejam tão seguros de conseguí-lo.
A versão em castelhano desta entrevista está no Boletim n°48 do PGS/ GAP da Espanha, de junho de 2007, www.proyectogransimio.org