(Reprodução de Matéria Publicada na edição 18/04/2007 – N° 1955 – Ano 30)
COMPORTAMENTO
O Projeto Gap abriga 44 macacos em um parque de preservação com 24 alqueires no interior de São Paulo. Os recintos têm túneis para que eles transitem por toda a área que habitam
PROTEÇÃO DOS ANIMAIS
Santuários dos
cimpanzés
Vítimas de maus-tratos em circos e
zoológicos, eles têm hoje um serviço
de proteção, com direito a muito afeto
Por Lena Castellón
Como muitos meninos de sete anos, Guga gosta de uma boa bagunça. Corre, brinca e faz barulho sempre. Curioso, tem fascínio por traquitanas tecnológicas. Quer tocá-las e desmontá-las. Pudera. É um chimpanzé com plena saúde. Ele faz parte do grupo de 44 Pan troglodytes – o nome científico da espécie – que vive em um santuário em Sorocaba, no interior de São Paulo. Mas a vitalidade de Guga não é compartilhada por todos os animais. Entre seus companheiros estão vítimas de maus-tratos em circos, zoológicos e propriedades particulares. Traumatizados, dois chimpanzés tomam antidepressivo. A dupla ocupa um espaço separado, longe de estranhos. A visão de seres humanos ainda lhes é dolorosa.
ATENÇÃO A veterinária Camila orienta os cuidados médicos. E o empresário Pedro gosta de dar mimos e carinhos
O santuário de chimpanzés foi desenvolvido pelo cubano Pedro Ynterian, 67 anos. O centro praticamente nasceu com a chegada de Guga, na ocasião um bebê adquirido de um criador em outubro de 1999. Pedro já tinha aberto em seu sítio um criadouro para proteger espécies silvestres, porém com o filhote a história mudou. Ele tentou mantê-lo em seu apartamento na capital paulista. Mas bastou que crescesse para Pedro notar que o macaco precisava de outros cuidados. Assim, o sítio ganhou o primeiro recinto para chimpanzés. Cada vez mais interessado pelos animais, o cubano conheceu o Great Ape Project (GAP), entidade internacional de defesa dos grandes primatas. Ligou-se ao grupo e iniciou sua missão de resgatar chimpanzés e oferecer-lhes um espaço seguro para viver. Conhecido como Projeto GAP, o santuário conta com dez tratadores e a veterinária Camila Gentile. O lugar ocupa uma área de 24 alqueires com recintos que se comunicam por túneis para que os macacos tenham trânsito livre.
Uma das primeiras medidas do projeto foi adquirir animais de criadores. O passo seguinte foi salvar os que estavam em condições precárias, mesmo que estivessem longe de São Paulo. O santuário não tem ajuda financeira do Gap, nem do Ibama. Dono de um grupo de empresas, Pedro usa parte do lucro para manter seu hobby. “Em vez de iate, invisto aqui”, diz ele, que gasta R$ 40 mil por mês com os primatas.
No passado, o empresário não se chocava com macacos nas jaulas de circos – que em diversas cidades estão proibidos de trabalhar com animais. Ele desconhecia a violência fora dos picadeiros. Encarcerados em cubículos, muitos foram castrados e tiveram seus dentes arrancados. Os que ainda estão presos freqüentemente sofrem de fome e sede. Já nos zôos, o problema comum é a falta de espaço. “Quando eles não podem manter mais o chimpanzé, sou procurado.” Denúncias de maus-tratos chegam rapidamente ao santuário. Nessa condição, o animal é confiscado. E, com autorização do Ibama, vai para o Projeto Gap, único lugar no País com estrutura para se encarregar deles. Hoje, o santuário cuida no total de 69 macacos em uma rede de quatro unidades, nenhuma aberta ao público.
Apesar de tudo, Pedro não está livre de críticas. Há quem não aprove a maneira como lida com os macacos, sustentando que ele deveria criá-los como se estivessem na natureza. O empresário diz que os chimpanzés já viviam com os homens e adquiriram nossas manias. Por isso, não se intimida. Dá abraço, beijo, suco em caixinha e chocolate. Em um mês, abrirá uma “escolinha” onde alguns deles poderão ver revistas e até tevê e, quem sabe, aprender a usar o banheiro. “Eles são iguais à gente”, garante. No que depender dos mimos, não há dúvida. Fazem festa como qualquer um.
Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/