Eles assistiram toda a construção, que se prolongou quase 5 meses. Desde seu recinto de cerca elétrica, Guga, Carlos, Cláudio, Emílio e Carolina, olhavam os pedreiros erguerem um recinto, que achavam que era para eles. Da Escolinha, que fica ao lado ou entre o recinto atual e o novo, já enxergavam que a construção estava no fim. O túnel tomou forma dias atrás, o primeiro túnel aéreo que fizemos no Santuário, aí eles entenderam que aquela área seria para eles.
Dias atrás passamos Samantha e Billy Jr., ambos não respeitam cercas elétrica, e Samantha até ângulos muito fechados de muros. Ela ficou alguns dias na Escolinha, pronta para entrar no túnel e Billy mais de dois meses no recinto original de Guga, e dormia a noite com Dolores, que durante o dia ficava na cerca elétrica. Para Billy Jr. com seus 3 anos, não existe cerca elétrica que o detenha, ele escala todas.
Segunda-feira 8 de outubro foi o dia “D”. Chamamos primeiro Emílio, Carolina e Cláudio, que entraram na Escolinha e daí ao túnel, e abrimos o acesso ao novo recinto. No início tinham medo, já que é um recinto muito grande de 8.000 metros quadrados. Carolina, como todas as fêmeas, foi a mais audaciosa, e rapidamente entrou e começou a reconhecer o terreno. Cláudio ficava na porta e Emílio no túnel. Eu entrei para ajudá-los a criar coragem, aí quando me viram dentro, eles também entraram. Em seguida liberamos Samantha e Billy Jr., que estavam no dormitório, e todos se abraçaram, e começaram com as brincadeiras.
Ainda faltavam Guga e Carlos, que são os maiores e os dominantes. Eles entraram no túnel e quando abriram a porta, entraram rápido. Guga abraçou Billy Jr., com quem não tinha contato físico há mais de 2 meses, e pouco depois começou a namorar com Samantha. Carolina abraçou o seu irmão Billy Jr., de quem estava afastada também desde que ele começou a fugir de todas as cercas, e com Cláudio fizeram o grupo que originalmente existia.
Carlos e Emílio começaram a correr por todo o território, observaram o exterior pelas dezenas de janelas e subiram nos brinquedos, e nas camas de mangueiras. Guga chegou na piscina que estávamos enchendo e começou a mexer com água, que é um de seus entretenimentos favoritos, lavou as mãos, os pés e entrou na água. Eu fiquei junto com eles na piscina, incentivando-os a perder o medo.
Neste recinto temos investido toda nossa experiência em 7 anos construindo recintos para chimpanzés. Toda a parte interna de refeitório e dormitório é azulejada, as camas novas desenhadas, são cestos metálicos cobertos de mangueiras, que dão a sensação de ninhos, que é onde eles gostam de dormir, e como o terreno é irregular, eles têm uma visão de dezenas de quilômetros, além de olhar todo o Santuário, a partir dos cestos aéreos instalados. Os refeitórios têm janelas panorâmicas, com vidros de 20 mm, que permitem ver o exterior sem necessidade de sair.
Guga olhou para todo lado e com um gesto cúmplice, quase me falou:
Obrigado Pai, por nossa nova casa!
Dr. Pedro A. Ynterian
Projeto GAP Internacional