Santuário de primatas
postado em 23 abr 2008

Projeto Gap luta pelo bem-estar de animais que sofreram maus-tratos, acolhendo espécies em abrigos criados especialmente para eles

Era outubro de 1999 quando o microbiologista e empresário cubano Pedro Alejandro Ynterian, protecionista de animais que já mantinha um criadouro conservacionista em Sorocaba, São Paulo, para espécies silvestres, encantou-se pelo chimpanzé Guga. Com apenas 3 meses de vida, o pequeno primata nascido em um criadouro particular estava prestes a ser vendido para um circo. Foi quando Pedro resolveu mudar o destino do bebê macaco e comprou o animal. “Se eu não tivesse feito isso, Guga seria condenado a viver, pelo menos, 50 anos confinado em uma jaula”, conta.


Foi então que, com Guga, Pedro passou a se dedicar a um projeto que mudaria sua vida: engajou-se ao Great Ape Project (GAP), entidade internacional que luta pela defesa e extensão dos direitos humanos aos grandes primatas. No Brasil, com o nome de Projeto GAP, o trabalho do protecionista ganhou força com a construção de quatro santuários destinados a abrigar chimpanzés que sofreram torturas, foram explorados comercialmente, viveram em zoológicos precários, eram exibidos em circos ou criados como bichos de estimação.


Localizados em Sorocaba, Ibiúna e Vargem Grande Paulista, em São Paulo, e em Curitiba, os santuários conservam mais de 200 animais – entre primatas e outras espécies silvestres – que foram resgatados após denúncias de maus-tratos em todo o País. Nos refúgios, chimpanzés vivem livremente em recintos repletos de brinquedos, rampas e túneis para que os animais possam se divertir e interagir uns com os outros. Os cuidados com os animais ainda incluem supervisão médica – em vez de veterinários, a maioria dos profissionais de saúde é formada por médicos, como cardiologistas, dentistas, cirurgiões e nutrólogos – e alimentação balanceada.


Pensando no bem-estar e no desenvolvimento do aprendizado dos filhotes, este mês foi concluída a construção de uma escolinha no santuário de Sorocaba. No local, que tem as paredes decoradas com figuras de animais diversos, os bebês brincam, folheiam revistas, assistem televisão e treinam habilidades como pintura e desenho, tudo sob os olhares atentos de tratadores.


Mas a visitação pública nos santuários é proibida. “Os chimpanzés que sofreram muito nas mãos de humanos desconfiam de tudo, acham que todas as pessoas são ruins, vão machucá-los e eles reagem com agressividade, como defesa. Alguns ficam tão desesperados quando vêem a presença de desconhecidos que se auto-mutilam, gritam sem parar. Mas eles são dóceis com quem eles conhecem e confiam, que são os tratadores e veterinários”, revela Pedro.


E pelo mesmo motivo, nem todos os animais são capazes de conviver em grupo e precisam ser mantidos isolados. “Há tristes casos de animais criados explorados em circos que, para parecerem mansos, tiveram seus dentes arrancados ou foram cegos”, diz o protecionista.

Episódios emocionantes não faltam para quem acompanha o dia-a-dia dos animais. Pedro cita como caso mais recente o chimpanzé Hulk, que, por 15 anos, viveu na escuridão. Além de cego, Hulk foi castrado e violentado. Tragédias que marcaram o animal para sempre. “Hulk foi o primeiro chimpanzé do mundo a ser operado e ter parte de sua visão recuperada”, conta Pedro, que, para este feito, teve a ajuda do renomado oftalmologista Walton Nosé e equipe.
Como forma de angariar recursos para a manutenção dos santuários, que não tem ajuda financeira do Ibama ou de outros órgãos federais, através do site do Projeto Gap (www.projetogap.com.br) é possível fazer doações e comprar camisetas, bonés e kits para trabalho voluntário, além do livro ‘Nossos Irmãos Esquecidos’, de Pedro Alejandro Ynterian (Ed. Terra Brasilisso, 348 págs, R$ 25),sobre o Projeto Gap. “Pessoas que possam divulgar nossa luta, procurando criar uma consciência na sociedade são sempre bem-vindas”, diz Pedro.