Salvando Gorilas órfaos no Gabão
postado em 31 jul 2007

Por Sarah Monaghan
Notícias BBC, Gabão

No momento Gabão, localizado no oeste da África, depende do petróleo como fonte de ingresso de divisas. Porém, com a previsão do esgotamento desta fonte até 2020, o presidente Omar Bongo, quer tornar parte da floresta equatorial do país, hoje cheia de elefantes, chimpanzés, gorilas, mandrils, hipopótamos e leopardos, em parque turístico.

É bastante desconcertante viajar até o Gabão para descobrir que seu entrevistado não gosta de falar.

Liz Pearson é diretor de um projeto pioneiro de reintroduçao de gorilas na fronteira com a Congo.

Quando ela me encontra no aeroporto Franceville, ela é monossilabica e com um sorriso tímido. Notei picadas e arranhões em seus braços. Posteriormente ela me diz que após muitos anos vivendo com gorilas na floresta, ela perdeu o hábito de conversar. Quando eu chego lá no dia seguinte entendo o porque.

Naquela noite, na cidade, bebendo uma cerveja, ela se torna mais comunicativa. O ar tem cheiro de churrasco. “Aqui é muito difícil encontrar um restaurante que não sirva carne de caça”, ela diz.

Na porta ao lado oferecem crocodilo, macacos e antílopes, um sinal claro de que mesmo que a caça esteja colocando em risco a vida selvagem em Gabão, a carne de caça continua sendo a refeição preferida.

RESERVA DE GORILAS

Foi o finado John Aspinall, bilionário inglês excêntrico, quem fundou dois zoológicos privados em Kent e que teve a visão para uma reserva de gorilas. Eu voei sobre o local por uma hora e fiquei maravilhado com a beleza”, ele disse. “Eu não vi nenhuma habitação humana. Eu soube que era ideal para um santuário.”

Chegar até a reserva requer 5 horas de viagem em veículo de quatro rodas para poder atravessar a savana até o rio Mpassa, aonde transferimos os mantimentos para uma canoa para continuar mais três horas de viagem.

Trepadeiras nas encostas e crocodilos embaixo dágua. É uma viagem digna de uma rainha africana. Uma hora depois raios e trovões inciam uma tempestade tropical.

“Nós chegamos em casa”. Diz Liz iniciando um caminho de lama. “Casa” é uma cabana com geladeira a gas, telefone por satélite e laptop aonde estão registrados todas as atividades da equipe.

A queda da noite traz a tona um concerto orquestrado com gritos de morcegos, ruídos de cigarras e choros de filhotes na floresta. É um impressionante som de primavera.

ESTABELECENDO UMA LIGAÇÃO

Em algum lugar dormindo em árvores se encontram 23 gorilas gentis.

Muitos iniciaram suas vidas como órfãos da caça. Um tinha só um mês e pesava pouco mais que saco de açúcar quando ficou órfão. Outro teve a mãe pega numa armadilha na qual deixou seu pé ‘após mordê-lo para poder fugir” Liz disse. O bebê foi encontrado encima do corpo já sem vida de sua mãe.

Kongo foi resgatado de uma jaula já com muita cicatrizes de machados. Ela nunca se esqueceu de seu choro quando ele chegou. “Foi um choro desesperado com a felicidade de ver a floresta novamente”, ela disse.

O estabelecimento de uma ligação é fundamental para a reabilitaçao funcionar. “Gorilas são muito sensíveis”, Liz me conta. “Se você não desenvolver uma ligação com eles, eles não comem. A luz desaparece de seus olhos.”

O segundo grupo de gorilas chegou em 2002 do Zoológico de Howletts Aspinall. Esta foi a primeira tentativa de reintroduçao de bebês nascidos em cativeiro, os quais não tem traumas como outros. Todos apresentaram desafios diferentes.

Em gaiolas eles ficaram com medo ao ver a floresta. Eles não gostaram dos barulhos. Eles se apavoraram com a visão de um besouro. E o pior ainda estava por vir.

Cobras, leopardos e em uma ocasião Liz e os bebês encontraram um elefante. O gorilas se agruparam junto a ela de forma que ela não conseguia se mexer. Devagar ela recuou. Depois ela se deu conta de que a elefante estava com um bebê motivo pelo qual foi agressiva. Estava simplesmente sendo protetora, ela disse.

FALANDO O IDIOMA DELES

Estes jovens gorilas são auto-suficientes hoje, porém independentemente de sua liberdade adquirida eles não conseguem conter a alegria quando vêem a Liz na floresta. Os mais velhos têm brincadeira mais brutas que às vezes são doloridas por isso ela evita. Os mais bebês simplesmente querem colo.

Gorilas batem em seu próprio peito e gritos para demostrar suas tristezas. Liz utiliza sons similares para se comunicar com eles. Ela conhece todos os sons, ela disse. Mas ela não gosta de dizer muito para evitar erros de comunicação.

Ela usa linguagem corporal no lugar. ‘Se eu me sento de forma fechada ele não vem. E se me sento de forma relaxada eles vem”.

O que o futuro reserva para estes gorilas? Os primatologistas internacionais que acompanham este projeto acreditam que eles se reproduziram e formaram famílias.

É um experimento novo sem precedentes. “Estes gorilas cresceram sem um gorila adulto ao seu redor. Existe a possibilidade deles se verem uns aos outros como irmãos e irmãs e não como fêmeas e machos”.

Ao menos agora eles vivem de forma independente em seu próprio habitat. ‘Eles estão na adolescência agora”, Liz disse. “Eles estão ocupados saciando suas vontades. ”

Tradução: Dra. Carolina G. Ynterian