República do Congo: os últimos chimpanzés primitivos
postado em 22 mar 2012

Os chimpanzés em vida livre na África, em sua grande maioria, já tiveram contato com humanos e em algumas áreas até convivem com eles, num equilíbrio delicado, que pode desaparecer rapidamente. Existe uma área na República do Congo, chamada Triângulo de Goualougo, de aproximadamente 150.000 hectares, onde ainda os chimpanzés, gorilas e elefantes que lá moram não conhecem praticamente a raça humana.

Esta zona pantanosa é uma selva quase impenetrável, que alguns conservacionistas qualificam como um “Jardim do Éden”, onde a natureza, em todos seus aspectos, é preservada, já que a cobiça humana não se adentrou nela.

Num acordo que já tem mais de 10 anos, o Governo da República do Congo, por intermediação Norte-Americana, se comprometeu a proteger esta última área de sobrevivência de primatas, que agora foi oficializada ao ser incorporada ao Parque Nacional Nouabale-Ndoki, que margeia a selva intocada. O Parque agora vai ter mais de 423.000 hectares de extensão.

A Bacia do Rio Congo está sendo submetida a uma agressão constante de Companhias Mineradoras e Madeireiras e o futuro das selvas tropicais que lá existem é assustadoramente dramático, e pode terminar desaparecendo.

A Organização WCS (Wildlife Conservation Society), que vem trabalhando em seu programa africano há muitos anos – na preservação de algumas das florestas do continente -, considera que a medida agora acertada pode contribuir para preservar a vida selvagem e as espécies de primatas que lá existem do contato humano, e também conservar suas características primitivas.

Nas pesquisas realizadas no chamado Triângulo Goualougo, pelo conservacionista Dave Morgan, da WCS, e Crickette Sanz, da Universidade de Washington, foram identificadas novas ferramentas desenvolvidas pelos chimpanzés do Goualougo, desconhecidas em outras regiões africanas. Eles mencionam como exemplo dois instrumentos usados para caçar cupins: uma vara curta para perfurar o ninho e uma vara longa para pescar os cupins, como uma especialização deste trabalho, que não se viu em outras áreas.

O vice-presidente do WCS, John Robinson, declarou no momento de anunciar o acordo do Governo Congolês: “Estes descobrimentos valiosos de como funciona a mente sofisticada dos chimpanzés do Goualougo teriam se perdido para sempre se não existisse o compromisso do Governo de preservar esta selva”. E acrescentou: “Estes chimpanzés têm expandido enormemente nosso conhecimento da cultura chimpanzé. O trabalho continuado de observação e estudo dos mesmos é essencial, e só se consegue mantendo essa população intocada”.

Os pesquisadores que têm estudado estes chimpanzés primitivos narram que eles também estudam os humanos, observando-os a distância, sem perturbá-los.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional