Projetos recém-aprovados visam preservar onças-parda e pintada
postado em 02 jul 2018

CONSCIENTIZAÇÃO

Registrados em todos os cinco biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga), felinos como as onças-parda (Puma concolor) e pintada (Panthera onca) ganharão reforço na sua proteção até…

02/07/2018 às 07:30
Por Redação

Registrados em todos os cinco biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga), felinos como as onças-parda (Puma concolor) e pintada (Panthera onca) ganharão reforço na sua proteção até 2023, com a recente aprovação do Plano de Ação Nacional (PAN) Grandes Felinos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). O documento, atualizado a cada cinco anos, recomenda ações de monitoramento, combate às ameaças diretas, atividades de educação ambiental voltadas à população que reside no entorno de áreas com presença dos felinos, entre outras estratégias de conservação.

A intenção do PAN é avaliar o grau de risco de extinção de cada espécie e traçar medidas prioritárias para garantir as espécies vivas e seus ambientes naturais saudáveis e, assim, protegê-las. Também conhecida como puma ou suçuarana, a onça-parda é a única espécie em vida livre com registro oficial em Pernambuco, de acordo com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do ICMBio. Ela ocorre, inclusive, entre os municípios de Salgueiro e Cabrobó, no Sertão do Estado, onde a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) estuda a proteção legal de 30 mil hectares de áreas de Caatinga – um fator considerável para a conservação desse território.

“A onça-parda tem distribuição geral, principalmente em áreas de Mata Atlântica e de Caatinga. Já a (onça) pintada é muito rara. Em Pernambuco, deve ocorrer apenas em áreas isoladas da Caatinga, mas pelo Cenap, ainda não tivemos nenhum registro”, afirma o analista ambiental da instituição, Paulo Amaral. Há 24 anos, o Cenap é referência em pesquisa e manejo para conservação de espécies de mamíferos carnívoros que ocorrem no País, com foco também no Nordeste brasileiro. Mas, uma triste coincidência une ambos felinos: tanto a parda quanto a pintada possuem o mesmo grau de ameaça. Elas estão inclusas na categoria Vulnerável (VU) pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Em outras palavras, quando uma determinada espécie é classificada assim, significa dizer que ela enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro bem próximo. Essa vulnerabilidade é causada principalmente por perda ou destruição de habitat, conforme aponta o coordenador do Registro Genealógico dos Felídeos Silvestres em Cativeiro no Brasil pela Associação Mata Ciliar, Jean Carlos Ramos.

Por serem territorialistas e de grande porte, esses felinos precisam dominar áreas de até 100 quilômetros quadrados para sobreviverem e se reproduzirem. “O problema é que vêm perdendo cada vez mais seus habitats para a agropecuária, construção de estradas e desmatamento para a exploração da madeira e do carvão”, exemplifica o pesquisador, alertando para uma outra consequência devido à acelerada fragmentação das matas: a perda dos ambientes naturais afugenta as presas silvestres desses felinos, colocando-os próximos a fazendas, onde há animais de criação.

“É quando ocorre uma outra ameaça, que é a caça retaliatória. As onças são caçadas pelos criadores de animais domésticos, justamente, para que esses bichos não virem presas de onça”, complementa Ramos. No ambiente selvagem, as capivaras, serpentes, coelhos, veados e antas são alguns dos pratos prediletos desses carnívoros.
Única em cativeiro

Graças ao trabalho realizado pelo corpo técnico do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas Tangara), espaço administrado pela CPRH e situado no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife, que os felinos recebem o cuidado e tratamento adequados antes de ganharem a vida livre na natureza. É nesse mesmo lugar que Diego, uma onça-parda de 2 anos, está em processo de reabilitação até chegar o dia de ganhar a liberdade. A história desse felino começou quando ele chegou ainda filhote ao Cetas Tangara.

Era setembro de 2016, quando ele foi entregue por moradores da Zona Rural do município de Serrita, no Sertão, durante uma das vistorias da CPRH na região. Perdido da mãe, Diego chegou assustado e com descalcificação óssea ao centro de triagem. Ele tinha pouco mais de 1 mês de vida e pesava 4,9kg. Na época, o filhote foi chamado de Juma, pois acharam que era uma fêmea, mas ao chegar ao Cetas, logo percebeu-se que era um macho. Atualmente, já se alimenta de presas vivas, pesa em média 40kg e mede cerca de 150cm.

Raras na natureza

A falta de investimentos é um dos empecilhos para a realização de estudos e monitoramentos contínuos das espécies. A única certeza é de que a população de ambos os felinos está em declínio, mas não se sabe ao certo a quantidade de indivíduos em vida livre na natureza nem a exata distribuição geográfica em Pernambuco. “É muito difícil estimar algo sem uma pesquisa continuada. Necessitam-se de maiores estudos para uma melhor definição, até para contribuir na formulação de ações estratégicas”, reconhece Carlos Ramos. Ele também é professor do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.

Até mesmo o Cenap não teve como responder ao questionamento. “Não há números precisos. Como ambas estão ameaçadas de extinção e estão vulneráveis, as oscilações das populações são rápidas”, justifica Paulo Amaral. Considerando que a gestão da fauna em Pernambuco pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) ainda é muito recente, iniciada há quatro anos quando o Ibama repassou a responsabilidade à CPRH, o Estado ainda não possui a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas estadual para Mamíferos, ainda em fase de elaboração por pesquisadores da UFRPE em parceria com o órgão ambiental estadual. Está no planejamento da CPRH, inclusive, um projeto específico para conservação de felinos silvestres.

Já no âmbito federal, a coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar, Cristina Harumi Adania, fez algumas ponderações em relação ao trabalho de conservação desempenhados pelos órgãos competentes. Para ela, ao mesmo tempo que existe um esforço governamental em conservar duas espécies de onça, com o PAN Grandes Felinos, o mesmo governo põe em xeque a proteção da fauna. “Fala-se de conservação da biodiversidade, num cenário em que ao mesmo tempo está em tramitação um projeto de lei para liberar a caça de animais silvestres no Brasil.”

O PL em questão é de autoria do deputado federal Valdir Colatto (PMDB-SC), o qual pretende anular a Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197) e regulamentar o exercício da caça profissional no País.

Fonte ANDA: Folha de Pernambuco