Projeto Mucky abriga e trata macacos
postado em 12 jun 2008

(Reprodução de matéria publicada no Jornal o Estado em 11.06.2008)

Em Itu, ecóloga montou estrutura para receber e cuidar de sagüis e outros primatas que sofreram maus-tratos
Fernanda Yoneya
A história do Projeto Mucky, que dá assistência a primatas (macacos) brasileiros, começou há 23 anos, quando um sagüi-do-tufo-preto chegou às mãos da ambientalista Lívia Botár. Ela morava no Bairro do Limão, zona norte da capital, e passou a cuidar do sagüi, batizado de Mucky. ?Ele havia sido criado como bicho de estimação e era amarrado por uma corda. Tinha sinais de desnutrição e maus-tratos?, conta.


Fundadora e coordenadora do Projeto Mucky – nome dado em homenagem ao primeiro sagüi -, Lívia mantém, com 12 profissionais e voluntários, a única instituição do País que socorre, recupera, abriga, pesquisa e procria sagüis de espécies ameaçadas de extinção. ?Quando peguei o Mucky, a corda estava entranhada na pele. Ficou comigo 12 anos e morreu em 1997, com uns 15 anos.?


Há quatro anos, o Mucky está instalado em Itu (SP). De material de construção à mobília, tudo é doado. O projeto conta com empresas parceiras, que fornecem, por exemplo, medicamentos. Além disso, os sagüis têm padrinhos, que contribuem com, no mínimo, R$ 20/mês. Hoje, Sapinho, Príncipe, Gretta, Clark, Pitanga, Benjoin, Malakyta, Fubeka, Kykyô, Kayçara e outros 170 moradores do Mucky recebem o apoio de 360 padrinhos, número insuficiente para cobrir os gastos.


Há 80 viveiros, onde os animais comem, dormem, brincam e vivem em sociedade, distribuídos em 10 mil metros quadrados, além de enfermaria, centro de educação ambiental, cozinha e alojamentos. Foram plantadas, ainda, 120 árvores nativas, com cultivos orgânicos de banana, manga, goiaba, limão, mandioca e milho.


OITO ESPÉCIES


Atualmente, oito espécies de primatas vivem no Mucky, todas nativas: sagüis-da-cara-branca, sagüis-do-tufo-preto, sagüis-do-tufo-branco, sagüis-da-serra-escuros, sagüis-brancos da Amazônia, animais híbridos, micos-de-cheiro e bugios.


Os animais chegam ao Mucky de diversas maneiras. Há desde apreensões da polícia ambiental e de primatas vindos de centros de triagem do Ibama até lotes apreendidos em favelas, residências e por policiais de trânsito, em avenidas movimentadas de São Paulo. ?O critério é receber só animais vindos de órgãos oficiais. Os poucos que chegam de pessoas físicas devem ser acompanhados de boletim de ocorrência de preservação de direito.?


Independentemente da origem, 90% dos casos são de animais desnutridos, cegos, mutilados e com seqüelas psicológicas. O projeto recebe de seis a sete macacos por mês. ?Mais do que isso não damos conta.?


A equipe que se dedica ao Mucky inclui veterinários, biólogos, tratadores, cozinheiros e voluntários. A dieta dos bichos é especial, à base de proteínas, vitaminas e minerais e vegetais. Há tratamentos com florais e homeopatia e alguns sagüis fazem sessões de hidroterapia, para recuperar movimentos. ?Com massagens e água morna, eles relaxam e a recuperação é mais rápida.?


Os viveiros são lavados, esterilizados e têm todos os galhos trocados a cada chegada e saída de animais. ?Isso evita stress para os novos moradores, pois eles não sentem, pelo cheiro, a presença dos macacos que ali viviam.? Ela diz, ainda, que, no ambiente natural, um grupo de sagüis ocupa 22 hectares. Por isso, a disposição dos viveiros é feita com barreiras visuais (arbustos e cercas vivas) entre as moradias.


SAGÜI NÃO É PET


Embora a comercialização de animais silvestres seja prevista na lei, em alguns casos, Lívia ressalta que sagüi não é animal de estimação. ?É comum as pessoas comprarem sagüi como pet, eles não se adaptarem e os donos se livrarem deles. É uma compra equivocada. Quando adultos, eles mordem e tornam-se vítimas e transmissores de doenças humanas. Além disso, há o problema do tráfico de animais. Quem compra também infringe a lei?, diz.


Ainda segundo ela, os sagüis do Mucky não voltam à natureza, pois não têm condições de acompanhar o desenvolvimento de animais saudáveis. ?Ficam as seqüelas e eles nunca mais serão os mesmos.?


Mais informações acesse www.projetomucky.com.br

Fonte: http://www.estado.com.br/suplementos/agri/2008/06/11/agri-1.93.1.20080611.22.1.xml


Legislação rígida para espécie nativa
Crime ambiental: É considerado crime ambiental comprar, vender, capturar ou manter em casa qualquer animal nativo do Brasil. O comércio ilegal de bichos silvestres é penalizado com a apreensão do animal até a aplicação de sanções legais


Registro: A comercialização é permitida apenas por criadouros comerciais autorizados e registrados no Ibama. Para obter a autorização, é necessário apresentar projeto detalhado ao Ibama


?Indomesticável?: A ambientalista Lívia Botár é radicalmente contra qualquer criatório, mesmo legalizado, de espécies silvestres. ?Lugar de animal silvestre é na natureza; muitos não se adaptam ao convívio doméstico e causam problemas, como acidentes com mordidas e transmissão de doenças?

Fonte: http://www.estado.com.br/suplementos/agri/2008/06/11/agri-1.93.1.20080611.23.1.xml