TESTEMUNHO DE SEBASTIÃO SALGADO: “… PARA TER UM GORILA NUM ZOOLÓGICO VOCÊ PRECISA MATAR SUA FAMÍLIA …”
Apresentador entrevista o fotógrafo brasileiro:
“_ Sebastião Salgado eu também fiquei muito curioso com a história do gorila das montanhas, esse bicho que você fotografou e você me pareceu muito interessado na figura dele, ele se viu na lente e você se viu nele, alguma coisa assim, queria que você descrevesse esse encontro histórico:
Eu quero só aproveitar para fazer um pequeno parêntese a propósito dos gorilas e as pessoas que forem ao zoológico e ver um gorila: fazer um protesto no zoológico a propósito do gorila. Para você ter um gorila no zoológico, você destrói uma família. A família dos gorilas é como a família dos humanos. Quando eu fui fotografar os gorilas, eu fui recebido por uma família, você tem um avô, você tem um pai e você tem os filhos, e você tem um respeito vertical como a nossa família humana e para você conseguir um gorila para colocar num zoológico, você tem que matar um pai, você tem que matar uma mãe, porque um gorila de 300 kg você não consegue levar, porque é uma massa muscular, total. Então eles vem e matam o pai, matam a mãe, roubam o filhote e levam o filhote. O filhote vai para o zoológico, é o filhote que vira o grande gorila que depois a gente vai visitar no zoológico, mas você destruiu uma família – uma família – como a família humana e os gorilas também têm problema psicológico. Um gorila que está no grupo, está numa família, em que o pai é assassinado, a mãe é assassinada, os outros se desintegram, ele nunca mais se adapta em outro grupo de gorila e eles acabam morrendo também. Então eu acho que é uma falta de respeito profundo – os jardins zoológicos em geral do mundo – mas contando essa história, eu vim fotografar os gorilas da montanha, hoje são muito pouco, menos, são 600 gorilas da montanha, divididos em dois grupos, são os mesmos gorilas que estão vivendo nas montanhas entre o Congo, Ruanda e Uganda, e uma parte deles que está na Uganda, no Bwindi Impenetrable Forest, mas é uma floresta, os mesmos gorilas, hoje com a pressão humana esse grande parque único que tinha alí foi dividido em dois, mas tem aproximadamente 300 de cada lado. Eu vim fotografar esses gorilas e a gente é aconselhado a não aproximar mais que 7 metros dos gorilas, mas eles veem a gente, a gente é recebido por esta família, eles estão na casa deles, eles têm uma curiosidade e se aproximaram, e um jovem gorila veio a mim, eu tinha uma câmera de médio formato, e ainda fotografava com negativo neste momento e as lentes de médio formato elas são planas, não são como as lentes de 35 mm que são contra. E esse gorila chegou, e, mas ele chegou a 70-80 cm de mim e eu com o olho no visor e ele vem, ele começa assim, a ver o movimento na frente da câmara que era o retrato dele na lente. Num momento qualquer ele coloca o dedo na boca e retira e coloca outra vez, ele começa a ver que era ele, ele se identifica, ele vê pela primeira vez ele no espelho, ele tem a noção, não é, da imagem, olha eu fiquei extremamente emocionado, ele também. Eu me senti, eu na minha espécie, a 50 mil anos, a primeira vez que eu fui tomar água e que vi minha imagem no rio. Eu tenho certeza que se não houvesse toda essa interferência, esse momento desse gorila seguramente seria o início de uma evolução, mais uma evolução da espécie, que possivelmente levaria milhares ou milhões de anos a chegar a uma outra coisa, mas foi um momento muito forte.”
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=IL3Ou7Khl3A&feature=c4-overview&list=UUNVsZnDXOM4PodYIEgM2e4w
TEMPO EXATO: 1:11:41′
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