Primeira Cesariana do Santuário
postado em 14 fev 2012

SANTUÁRIO DE SOROCABA

Das maiores irresponsabilidades que eram praticadas no Zoológico de Niterói, que foi fechado judicialmente em 2011, a reprodução descontrolada de espécies era talvez a pior. Lá chegaram a existir quase uma centena de macacos-pregos (Cebus apella), confinados em pequenos cubículos, onde reproduziam sem o menor controle. Do grupo de 33 que recebemos junto com o chimpanzé Jimmy e o leão Sansão com FIV (HIV Felina), algumas fêmeas estavam grávidas.

A última do grupo, de nome Panqueca, tinha um bebê de grande porte, que ocupava totalmente seu abdômen. Já a tínhamos separado do resto do grupo semanas atrás, após uma briga, e a colocamos junto com um macaco-prego macho, de nome Nico, muito humanizado – que tinha chegado do DEPAVE da Prefeitura de São Paulo -, para poder observá-la e assistir o parto.

Uma tratadora percebeu na quarta-feira cedo, dia 8 de fevereiro, que a fêmea estava com contrações. Ela foi isolada e acompanhada pelas veterinárias minuto a minuto. Ela não conseguia expulsar o bebê, que era muito grande, e já lhe faltava respiração. Aí foi decidido intervir e praticar uma operação cesariana, para terminar com o sofrimento da mãe e salvar o filhote. Em poucos minutos a operação foi praticada e um macaco-prego macho de tamanho grande, batizado de Camilo, era o mais novo hóspede do Santuário.

O bebê Camilo já nasceu com os dentes de baixo, totalmente peludo, porém, bem magro, já que a mãe não conseguia acompanhá-lo devido ao seu tamanho grande. Quando o bebê foi mostrado para a mãe, ela nem olhou para ele, como se não existisse. As tentativas de colocá-lo no colo, para que começasse a incentivar a saída de colostro, fracassaram, pois ela não se interessava por ele. Similar ao que nos aconteceu com a chimpanzé Samantha, que se negou a alimentar suas três filhas nascidas no santuário – Sofia, Sara e Suzi.

Para não perder mais tempo e debilitar mais o bebê, começamos a alimentá-lo artificialmente e vamos criá-lo até que fique forte o suficiente e independente, para voltar para a mãe. Ela se recuperou rapidamente da cirurgia e no dia seguinte surpreendentemente já estava em atividade.

É a primeira vez no Santuário que se pratica a cesariana, algo não muito comum, devido à facilidade que os macacos-pregos se reproduzem. A Dra. Camila Gentile e a Dra. Pollyana Pires, que praticaram esta intervenção rara nos cativeiros, receberam os parabéns de todos, inclusive dos tratadores no Santuário, que acompanharam minuto a minuto o desfecho feliz deste parto.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional