Esta matéria da jornalista Giovana Girardi, publicada na pág. A19 do Caderno Vida &, Jornal O Estado de São Paulo de 1° de junho, ilustra com testemunho de pesquisadores que antes dos Hominídeos, os Grandes Primatas já começaram a andar em dois pés por cima das árvores
Reproduzimos a matéria a seguir:
“Primata deu o 1º passo nas árvores
Pesquisa indica que bipedalismo pode ter surgido antes de o ancestral humano passar a viver no chão
Giovana Girardi
A teoria clássica da evolução diz que os primeiros ancestrais dos humanos a andar sobre os dois pés foram os descendentes daqueles grandes primatas que desceram das árvores e tiveram de ganhar a vida nas savanas. Ao observar o comportamento de orangotangos selvagens, no entanto, um grupo de cientistas percebeu que o bipedalismo pode ter surgido nos nossos parentes mais antigos, que ainda viviam nas árvores.
A equipe liderada por Susannah Thorpe, da Universidade de Birmingham (Inglaterra), notou que os orangotangos que vivem em Sumatra (Indonésia) freqüentemente se locomovem de uma árvore para a outra sobre as duas pernas, enquanto usam os braços para segurar outros galhos e balançar.
Ficar em pé sobre as duas pernas e sair andando até então era visto como a principal característica que define os hominídeos. Os ancestrais de gorilas, chimpanzés e humanos teriam descido das árvores e começado a andar sobre as quatro patas. Um tempo depois teriam desenvolvido um método de se locomover pisando nos nós dos dedos – modo usado pelos grandes macacos até hoje – e posteriormente sobre as duas patas.
Essa noção, no entanto, já vinha sofrendo abalos com a descoberta de algumas evidências fósseis mais recentes, como a famosa Lucy, um Australopithecus afarensis que viveu entre 3 milhões e 4 milhões de anos atrás em floresta africana e provavelmente se locomovia tanto pelo chão quanto pelas árvores.
EM BUSCA DE ALIMENTO
Susannah e colegas argumentam no artigo publicado hoje na revista Science que essa habilidade deve ter surgido nos primatas mais antigos como uma necessidade alimentar. Nos orangotangos modernos, observaram, ela é especialmente necessária para eles se movimentarem sobre ramos finos e flexíveis de árvores, na ponta dos quais ficam as melhores frutas.
Os animais então adotam a postura ereta sobre as duas patas e com a ajuda dos braços conseguem se esticar e pegá-las. Sem isso, esse alimento dificilmente seria alcançado. A equipe acompanhou ao longo de um ano o movimento de cerca de 3 mil animais e percebeu que o bipedalismo com a assistência dos braços era muito mais comum nesses momentos.
“Nossos resultados sugerem que o bipedalismo é usado para navegar pelos menores galhos onde as frutas mais saborosas ficam e também para cruzar os espaços entre as árvores”, afirma Susannah em comunicado à imprensa. Os pesquisadores propõem que esse cenário evolutivo teve início no final do período conhecido como Mioceno (há cerca de 5 milhões de anos), quando o clima no leste e no centro da África alternava entre muito seco e muito úmido, fazendo com que a floresta tropical se tornasse muito desigual.
Os primatas que ali viviam se depararam então com grandes espaços vazios entre as árvores, o que tornava difícil a travessia a partir da copa. Provavelmente a resposta dos nossos ancestrais foi atravessar o caminho pelo solo da floresta. Eles então passaram a comer os alimentos que ficavam no chão ou nas árvores pequenas. “Nossa conclusão é que o bipedalismo arbóreo teve benefícios adaptativos muito fortes”, diz Susannah.”
Fonte: http://txt.estado.com.br/editorias/2007/06/01/ger-1.93.7.20070601.11.1.xml