Talvez o caso que mais nos preocupa, na área da saúde mental no Santuário, é o Chimpanzé Pongo. É praticamente o único chimpanzé solitário no Santuário, que só tem contato visual com um grupo principal de Gilberto, Lulu e Margareth por uma janela. Pongo já ficou com 4 fêmeas diferentes e terminou agredindo a todas elas, com feridas no traseiro. A última foi Lulu, que nos sinalizou que queria ir para o recinto de Pongo e sua visita só durou 10 minutos, já que saiu sangrando de lá. Consultamos o caso de Pongo com o médico humano, Dr. Eduardo Pagani, que é Gerente de Pesquisa Clínica do Grupo Farmacêutico Nacional Cristalia. Ele nos visitou algumas semanas atrás, se impressionou com nosso trabalho e se colocou a nossa disposição para ajudar-nos no que fosse necessário. Depois de trocar vários e-mails com ele e responder a um amplo questionário, no dia 25 de Julho, o Dr. Pagani nos visitou e teve contato com Pongo.
Pongo é um chimpanzé macho, de 18 anos de idade, nascido no Zoológico de Belo Horizonte e que foi muito agarrado com sua mãe e sua irmã mais velha, até ser separado delas. Como acontece nos Zoológicos com freqüência, com pouco espaço de recinto disponível e quando existem conflitos potenciais com machos disputando poder, Pongo terminou em uma gaiola sem destino em um Zoológico particular de Fortaleza. Como este Zoológico não estava terminado, ele ficou meses engaiolado originando possivelmente sua neurose, o trauma da solidão em um lugar desconhecido e perdendo o convívio com sua família. Quando o Zoológico de Fortaleza “ganhou” 4 chimpanzés do Zoológico Bwana Park do Rio, fechado por maus tratos, Pongo perdeu seu futuro recinto. De Belo Horizonte ofereceram-nos enviar Pongo e ele voltou a ser pessoa, perturbado mentalmente e tudo, porém, foi tratado como um indivíduo com direitos a serem respeitados e não como um animal feroz, engaiolado e ignorado.
O Dr. Pagani achou em sua primeira avaliação, que a neurose de Pongo tem se concentrado em um objetivo, a comida. Pongo só vive para comer, já está obeso e não se interessa em mais nada. Para desviar o foco de sua atenção da comida e quebrar sua claustrofobia – ele nunca entra no dormitório e sempre dorme fora, já que tem medo de ser trancafiado como foi há quase 2 anos – demos a ele um urso Panda de pelúcia e começamos a colocar a comida dentro do dormitório, para que ele perca o medo de entrar em seu dormitório. Pongo bateu um pouco no urso de pelúcia, que é grande, porém terminou dormindo abraçado com ele na primeira noite e o carregou para vários lugares do recinto onde ele se movimenta.
Se Pongo fosse humano e pudesse falar nossa língua, seria mais fácil atingir seu trauma, desvendá-lo e tirá-lo de sua vida. Sem poder ter comunicação oral, temos que nos concentrar em gestos, atitudes e recursos, como certos brinquedos que fazem companhia a ele.
Como Pongo, existem hoje mais de uma dezena de chimpanzés em Zoológicos, ignorados, abandonados e traumatizados por episódios terríveis de suas vidas, que estão lá, no fundo de seus cérebros e que os convertem em doentes mentais. Porém os Zoológicos insistem em mostrá-los, humilhá-los e brutalizá-los, e depois falam que fazem “educação ambiental”, exibindo aqueles seres que há muito tempo perderam o espírito selvagem, e só odeiam e temem ao mesmo tempo os humanos, que controlam suas vidas de forma ignominiosa.