Pare de usar chimpanzés como cobaias
postado em 22 ago 2011

Por Roscoe Bartlet, publicado no New York Times em 12/08/2011*
Antes de ser eleito no Congresso, eu era um fisiologista na Escola de Medicina Aeronáutica da Marinha. Para nossas missões de sucesso para transportar homens a lua e trazê-los de volta a Terra com segurança, eu inventei uma série de aparelhos de apoio para respiração, os quais testamos em primatas, incluindo Baker, um sagüi. Antes de humanos serem mandados de foguete para o espaço, Baker foi o primeiro primata que sobreviveu a uma viagem de ida e volta ao espaço; Able, seu parceiro no vôo, morreu de uma reação alérgica ao anestésico durante um procedimento logo após o pouso.
 

Naquela época eu acreditava que a pesquisa justificava a dor causada aos animais. Mas nos anos seguintes, nosso entendimento sobre o efeito nos primatas, e as alternativas existentes, avançou bastante, a um ponto no qual eu não mais acredito que estas experimentações façam sentido – cientifica, financeira e eticamente. Esse foi o motivo pelo qual eu apresentei uma legislação bipartidária para anular progressivamente pesquisas invasivas em grandes primatas nos Estados Unidos.

Hoje é o início de dois dias de audiência pública conduzida pelo Instituto de Medicina, que vai analisar a necessidade de ainda se ter pesquisa invasiva com chimpanzés. Enquanto isso, nove países, bem como a União Européia, já proibiram ou restringiram pesquisas invasivas com grandes primatas. Os americanos precisam decidir se os benefícios para os humanos das pesquisas com grandes primatas são grandes a ponto de compensar os custos éticos, financeiros e científicos

As evidências demonstram que não. Primeiramente, muitas técnicas novas são mais baratas, rápidas e mais eficientes, incluindo modelos em computador e o teste de pequenas doses em voluntários humanos. Métodos in vitro agora podem ser feitos para o crescimento de células e tecidos humanos para estudos biomédicos, acabando com a necessidade de uso de animais.

Esses avanços levaram a uma redução das pesquisas com primatas. Muitos chimpanzés de propriedade do governo federal foram criados para pesquisas de AIDS, mas depois se provou que o uso de tecnologias mais modernas era mais efetivo. O resultado é que mais de 500 chimpanzés do governo estão ociosos em depósitos. Colocar fim às pesquisas com chimpanzés e aposentá-los em santuários vai poupar cerca de US 30 milhões para quem paga impostos por ano.

Nós também sabemos mais sobre as conseqüências das pesquisas invasivas nos animais. Procedimentos biomédicos que são simples quando aplicados em humanos geralmente requerem contenções traumatizantes nos chimpanzés, para proteção dos pesquisadores, uma vez que os chimpanzés são cinco vezes mais fortes que os homens. Por exemplo, para se conseguir uma amostra de sangue de um chimpanzé é necessário desacordá-lo com tranqüilizantes. Se você ver um vídeo disso vai perceber claramente o quanto é amedrontador e estressante.

Além do mais, o mero confinamento em gaiolas de laboratório priva os chimpanzés de necessidades básicas físicas, sociais e emocionais. Vários estudos feitos com chimpanzés em santuários que viveram confinados em laboratórios registraram sintomas comportamentais associados a distúrbios pós-traumáticos. Estresse crônico e traumático impacta negativamente a saúde dos chimpanzés e compromete o resultado de experimentos conduzidos com eles.

Não há dúvidas de que chimpanzés sentem dor, estresse e sensação de isolamento social de uma forma tão intensa quanto os humanos. O recente documentário de James Marsh’s, “Project Nim,” conta os 27 anos de vida de Nim Chimpsky, um chimpanzé usado em um projeto de pesquisa controverso que dizia respeito a criá-lo como se fosse um humano. Ensinou-se a Nim a linguagem de sinais – e ele usou esses sinais para dizer aos seus interlocutores humanos que ele estava traumatizado por sua condição de vida.

Nim não está sozinho. No seu livro, “Next of Kin,” o Dr. Roger S. Fouts conta sobre seu reencontro com um chimpanzé chamado Booee. Depois de 13 anos de separação, e depois de Booee ser deliberadamente infectado com hepatite C, Booee reconheceu, fez sinais e brincou com Dr. Fouts, para quem ele deu o “apelido em sinais” de Rodg. Outros visitantes reportaram que Booee usou a linguagem americana de sinais para gesticular “chaves”, indicando que ele queria sair de sua gaiola.

Histórias como essas, assim como o meu entendimento sobre a situação da pesquisa biomédica, me persuadiram a patrocinar Great Ape Protection and Cost Savings Act junto a senadora Maria Cantwell, democrata de Washington. A lei vai anular progressivamente as pesquisas invasivas com grandes primatas e aposentará 500 chimpanzés de propriedade do governo, levando-os de laboratórios para santuários.

Inovações contínuas nas alternativas ao uso de pesquisa invasiva com grandes primatas é o jeito mais civilizado para conduzir essa questão no século XXI. Civilizações passadas foram avaliadas pelo jeito que tratavam os mais velhos e os com necessidades especiais. Eu acredito que iremos ser avaliados, em parte, pelo moto que tratamos os animais, particularmente os grandes primatas.

Os americanos não podem mais justificar o confinamento desses seres fenomenais e inocentes para pesquisas invasivas traumáticas e vidas aprisionadas.

*Roscoe G. Bartlett é um representante republicano de Maryland

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Artigo original em inglês: http://www.savethechimps.org/index.cfm?fuseaction=news.details&ArticleId=204&returnTo=did-you-know#