Para divertir o público. Direto e simples. Não procure outra utilidade, já que não existe e se dizem que “educam as crianças, conservam a biodiversidade, geram pesquisa e conhecimento sobre a fauna“, saiba que tudo isso é marketing.
Quando o primeiro zoológico surgiu no início do século passado, no Reino Unido, era um local para mostrar “aberrações humanas”, principalmente seres anormais, anões, selvagens, com defeitos, etc. Depois foi se incorporando animais raros e carismáticos, para chegar ao que é hoje, um centro de diversão, muitos deles incluídos em roteiros turísticos importantes em países do primeiro mundo.
Essa nova dimensão da diversão precisou sofisticar as instalações, como as dos parques aquáticos Norte-Americanos, assim como zoológicos modernos, como os de Nova Iorque, San Diego e alguns ingleses, que disfarçam a prisão que significa para os milhares de animais lá trancafiados com um visual agradável e todo tipo de serviço para os visitantes, desde shows continuados, filmes, demonstrações e outras atividades.
Os zoológicos têm se agrupado regionalmente, existindo uma Associação de Zoológicos Norte-Americanos e outra Europeia. Através das mesmas, têm conseguido manter um padrão de qualidade, assim como uma política corporativa. Eles participam de organismos internacionais, ajudam alguns projetos de pesquisa e tentam esconder seu verdadeiro fim, que é divertir o público às custas da vida de milhões de animais enlouquecidos, que vivem em locais aquém de sua natureza selvagem e livre.
Se voltarmos a história dos zoológicos, veremos que em seus 100 anos de existência foram os causadores da depredação de dezenas de espécies em África, Ásia e América. Os chimpanzés que chegaram aos Estados Unidos primeiro eram encomendas de zoológicos, o mesmo com gorilas e orangotangos na América e Europa. Na Holanda e Suíça, chegaram a estabelecer, na metade do século passado, verdadeiros entrepostos destes primatas e outros grandes mamíferos, de onde eram vendidos para zoológicos e colecionadores de animais em todos os países.
Nem vamos entrar na área dos zoológicos privados, como os do narcotraficante Pablo Escobar, o do cantor Michael Jackson e do ditador Sadam Husseim. Os ricos e poderosos não se conformavam com a existência de zoológicos públicos e partiram para coleções privadas, que eram alimentadas por zoológicos e traficantes de animais de todos os cantos do Planeta.
Era charmoso ter um zoológico, um monte de animais trancafiados, doentes mentalmente, para serem contemplados por aqueles que desejavam mostrar seu poder e chamar a atenção do mundo.
Recentemente, numa Audiência Pública na Câmara dos Deputados, em que participamos para discutir uma Resolução do CONAMA em relação aos animais selvagens, foi colocado com realismo, pelas próprias autoridades fiscalizadoras, a falta de locais adequados para destinar animais capturados de traficantes ou comerciantes ilegais. Muitas vezes, o infrator fica com o animal, já que as autoridades não têm para onde enviá-los e o sistema brasileiro de destino dos resgates que o IBAMA possui, chamado CETAS, está em crise permanente e tem se convertido mais num cemitério do que um local para manter a vida.
Enquanto isso acontece, mais de 150 zoológicos, uma grande maioria de propriedade de prefeituras e até de Estados, continua existindo, ignorando esta realidade e pouco se importando com a mesma. A metade dos zoológicos brasileiros é ilegal, ou não tem alvará de funcionamento das autoridades ambientais federais. Mas isso não lhes impede de ficar abertos e de receber milhões de visitantes todos os anos.
Dez anos atrás, aproximadamente, um projeto de lei transitou na Câmara dos Deputados, de autoria de um parlamentar do Partido Verde, que dava uma destinação diferente aos zoológicos: convertê-los em Centros de Resgate de Animais e não mais de divertimento de público, cessando o assédio aos animais, que tanto mal faz a mente de cada um deles. Se aquele projeto tivesse sido aprovado, hoje não seria necessário que o CONAMA se visse forçado a fazer uma norma contraditória, mas que tenta resolver a crise que a fiscalização não consegue resolver.
Os zoológicos já têm verbas próprias, têm instalações construídas, têm pessoal treinado no manejo de animais. O investimento a fazer do tesouro é pequeno, se consideramos que poderíamos ter uma rede de 150 Centros de Resgate em todo país, onde os animais teriam um destino, uma reabilitação no caminho para reintegração a vida livre. Deixaríamos de importar animais de outras latitudes, que só têm um fim mercadológico, e esses recursos seriam reinvestidos na manutenção dos Centros de Resgate. O Brasil daria uma lição ao mundo de como administrar decente e corretamente sua fauna, e o tráfico de animais sofreria um duro golpe.
Talvez 2014 seja o momento crucial para trilhar este caminho. Os milhões de seres inocentes que são retirados do seu habitat a cada ano teriam o melhor presente que a Humanidade poderia oferecer, demonstrando que ainda se importa com o resto da Natureza e não só com si própria.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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