A PROVA DEFINITIVA:
Em junho de 2011, a revista científica PLoS ONE publicou um trabalho da antropóloga Lucy P. Birket e seu colega Nicholas E. Newton-Fisher, da Escola de Antropologia e Conservação, da Universidade de Kent, no Reino Unido, sob o título “How Abnormal is the Behaviours of Captive, Zoo-Living Chimpanzees?” (Quanto Anormal é o Comportamento de Chimpanzés que Vivem Cativos em Zoológicos?)
Este grupo de respeitados antropólogos trabalharam com 40 chimpanzés de seis zoológicos, três norte-americanos e três britânicos. No total eram 17 machos e 23 fêmeas, e as idades iam desde 8 anos até mais de 40. Num total de 1.200 horas de observação, o que dava um mínimo de 1.800 minutos por indivíduo, se conseguiu registrar 37 anormalidades visíveis desses primatas, nunca registradas naqueles de vida livre.
Os chimpanzés vinham das mais diversas origens, como de outros zoos, circos, laboratórios, alguns nascidos em cativeiro e outros capturados na selva. Isso permitiu fazer uma mistura que eliminava a ideia de que o comportamento surgiu da origem de seu passado, senão na realidade que era produto da vida atual de reclusão e exposição ao público que levavam.
A seguir, relacionamos as demonstrações de condutas anormais que aqueles chimpanzés mostravam:
COMPORTAMENTOS ANORMAIS (ABNORMAL BEHAVIOR)
Bang self against surface – bate as próprias partes do corpo contra uma superfície dura.
Bite self – morde as próprias partes do corpo.
Bite hit lick self – morde, bate e lambe as próprias partes do corpo sem motivo.
Bounce – mexe a cabeça ou corpo em um evento que não há ninguém.
Clap – bate a palma da mão ou sola do pé para fazer barulho.
Clap self – dá palmadas no próprio corpo.
Configure lips – move os lábios de forma que varia de cada indivíduo, ou seja, assoprando ar repetidamente ou esfregando os lábios sobre o vidro.
Display to human – atua agonizado ficando de pé na presença de humanos.
Drink urine – toma a própria urina.
Eat faeces – ingere as próprias fezes, tanto as fezes inteiras como fragmentos que não foram digeridos.
Eat faeces of other – ingere fezes de outros, tanto as fezes inteiras como fragmentos que não foram digeridos.
Float limb – um membro do corpo (não apenas dedos) se move sozinho independentemente não parecendo pertencer ao corpo.
Flumble nipple – manipula seus próprios mamilos com a língua ou dedos. Se os seios ou os mamilos podem ser estendidos até a boca, chega até chupá-los.
Groom stereotypically – alicia uma parte específica do corpo sem nenhum objetivo.
Groom stereotypically with object – alicia o corpo com uma vara ou outro instrumento sem nenhum objetivo. Sem algum objetivo carrega objetos sobre partes do corpo que não possuem pelo levemente.
Hit self – bate nas próprias partes do corpo com a mão.
Incest – copula com parentes próximos.
Jerk – ejacula espontaneamente sem estimulação externa
Manipulate faeces – segura, carrega ou espalha suas próprias fezes ou de outros.
Move hand repetitively – move a mão repetitivamente de forma circular no ar ou através de algum papel ou tecido.
Pace – locomove (usualmente em forma quadrupede) sobre um papel ou tecido cobrindo repetidamente a rota sem objetivo aparente.
Pat genitals – repetidamente toca os próprios genitais lambendo a mão frequentemente.
Pinch self – belisca seu corpo usando o dedão e o dedo indicador.
Pluk hair – arranca seu próprio pelo.
Pluk hair of other – arranca o pelo de outros.
Poke anus – insere o dedo em seu ânus.
Poke eye – insere um ou mais dedos dentro dos olhos.
Regurgitate – ingere vômito após vomitar voluntariamente.
Rock – sem estar arrepiado se agita repetidamente e ritmicamente. Geralmente de um lado para o outro, mas nunca de frente para atrás ou movendo o torso de forma circular. Usualmente todo o corpo, e algumas vezes só a cabeça.
Rub hands – esfrega uma mão na outra, então repete a ação com a ordem ao contrário das mãos em uma forma coordenada.
Spit – cospe saliva com os lábios contraídos geralmente e direção aos humanos observadores.
Stimulate self stylezed, no contexto – sem motivo sexual bate e dobra repetidamente seu próprio pênis ou clitóris.
Toss head – movimenta circularmente a cabeça.
Touch urine stream – posiciona a mão ou pé no próprio jato de urina. No final pode chegar a secar a mão no próprio corpo.
Twirl – roda o torso 360 graus enquanto esta de pé ou sentado.
Twitch body-pat – dobramento involuntário geralmente de dedos da mão ou do pé repetidamente.
Walk on object – se locomove de forma bípede carregando objetos como um lençol pisando nos cantos no qual é arrastado pelo chão. Esse comportamento supostamente é para ter os pés fora do chão e manter contato com o objeto.
Fizemos uma rápida comparação com nossos mais de 50 chimpanzés, hospedados no Santuário do GAP em Sorocaba, a fim de ver se existia alguma correlação. Em menos de 10% dos chimpanzés do Santuário, 11 daquelas condutas anormais se fazem presentes, o que indica que a diferença de local muda radicalmente o comportamento.
A conclusão dos antropólogos britânicos é que deve ser reavaliada a situação dos chimpanzés em cativeiro, e indulgentemente falando, se seria necessário ou conveniente continuar mantendo esses indivíduos em cativeiro.
O trabalho científico indica com clareza que a vida nos zoológicos, não importa quanto enriquecimento exista nos recintos e se assemelhe a vida natural, remedia a “loucura” engendrada naqueles infortunados. Se compararmos com um Santuário, como o de Sorocaba, onde os recintos são imensamente maiores, eles não têm restrição de movimento dia e noite e o assédio do público não existe, está claro que os zoológicos – não importa qual seja – geram um mal intenso na mente daqueles seres e os convertem em indivíduos profundamente perturbados.
Se analisamos as maiores perturbações que são: comer fezes, próprias ou de colegas, tomar urina, se ferir, arrancar os próprios pelos ou de colegas e fazer movimentos repetitivos constantes, isso você não vai achar em nosso Santuário, e se existiu em algum momento, eram de chimpanzés que vieram de zoos, que com o tempo abandonaram todos esses comportamentos anormais.
É absurdo que as Associações de Zoológicos, como a AZA Norte-Americana (American Zoological Association) e a BIAZA britânica (British and Irish Association of Zoos and Aquarium) insistam em manter chimpanzés em suas coleções de animais e exibições.
Eles colaboraram com este trabalho da Universidade de Kent e conheceram seus claros e evidentes resultados. À raiz do mesmo, uma recomendação deveria ser feita a todos os seus associados: de se tentar remover para Santuários ou áreas sem visitação pública todos os grupos de chimpanzés em suas propriedades.
Os outros zoológicos do mundo, incluindo os brasileiros, que insistem em manter chimpanzés em suas dependências devem estar cientes do crime que estão cometendo contra seres inocentes, que são enlouquecidos mais e mais a cada dia que passam na exibição pública.
Esperamos que o BOM SENSO E A COMPAIXÃO sejam a resposta futura à esta injustiça praticada contra a espécie mais próxima a nossa na Natureza e em breve não existam mais chimpanzés em zoológicos de Planeta Terra.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: Revista PLos One, Junho 2011, Volume 6