Nos passeios matinais que fazemos na mata com o grupo de Guga (Emilio, Carlos e Cláudio) às vezes nos deparamos com surpresas. A última foi uma raposa grande que vive na mata e circula por ela. O cheiro e inconfundível e os chimpanzés já detectaram as fezes dela, e ficaram curiosos, já que tem odor próprio de um animal carnívoro e são fezes grandes, o que implica um perigo para eles. Eu já a vi, porém eles ainda não a tinham visto.
Quando os chimpanzés estão perto do rio que corta o Santuário, ficam atentos a qualquer movimento ou barulho, pensando que a raposa possa estar por perto. Emilio, que é o mais cuidadoso de todos, quando sente um perigo próximo, pega a minha mão e me leva de volta para a mata alta, onde ele tem uma visão completa.
A seca está atingindo todo o interior de São Paulo este ano com muita intensidade, o nosso rio está com sua corredeira reduzida e tento retirar as folhas, galhos e pedras para que a água circule completamente. Tão cedo os chimpanzés me vêem limpando o rio, passam a fazer a mesmo e começam a trabalhar freneticamente, às vezes param e brincam um pouco nas árvores e depois voltam ao trabalho. Seria relativamente fácil ensiná-los tarefas simples, apesar da barreira da comunicação, eles adoram copiar as coisas que os humanos fazem, às vezes sem saber bem o propósito.
Lucky, dias atrás, pegou uma lixa de um pintor que estava lixando algumas grades para pintá-las e começou a lixar as unhas dele. Como ele associou o trabalho de lixar o ferro com as unhas, é algo inexplicável.
Existem bebedouros em todos os recintos, porém os chimpanzés não gostam muito de tomar água lá; adoram água em garrafas, copos ou qualquer vasilha. Quando tem uma garrafa por perto vão ao bico de água, enchem a embalagem e tomam com freqüência.
A tendência dos chimpanzés adquirir os costumes da sociedade humana civilizada é sempre manifestada. Eles sem dúvida desejariam ser como nós, usar sapatos, roupas, comer com garfos e colheres, assistir TV, passear de carro e lavar-se quando estão sujos. Como a vida futura deles será no cativeiro limitado dos Santuários, a civilização a que eles aderem com desejo, será uma forma de tornar esta vida mais agradável e amena.