Oportunidade para fechar um Zoológico desnecessário
postado em 17 out 2012

 A recente notícia da intervenção do Ibama em uma festa a ser realizada nas instalações do parque Beto Carrero World, em Santa Catarina, levantou a questão sobre o bem-estar dos animais do zoológico e a sua real função, tanto para os animais como para os homens –http://www.diarinho.com.br/materias.cfm?caderno=25&materia=54663


Confira abaixo artigo do Dr. Pedro Ynterian, que aproveita para deixar a sugestão de que esta seria uma oportunidade para fechar, definitivamente, o zoológico e transferir os animais para santuários.
 

“DESARMANDO ESPÍRITOS” 


Por Dr. Pedro A. Ynterian, Presidente do Projeto GAP Internacional

Tínhamos acabado de ganhar um contencioso legal com Beto Carrero World pela posse de meia dúzia de chimpanzés, que pertenciam ao ex-Circo Garcia, e nós, junto com o Instituto ANAMI, do Paraná, tínhamos comprado, como parte da propriedade rural onde estavam hospedados, 14 chimpanzés que trabalhavam naquele circo.

Beto Carrero tentou pegá-los, através de liminar, e conseguiu inicialmente tirar os primatas do Santuário do Paraná. Porém, em poucas semanas, a liminar foi cassada, já que nós éramos os legítimos proprietários por termos comprado a propriedade com todos os primatas, e fomos ao Parque buscá-los de volta, com o auxílio da Justiça.

Posteriormente tivemos a iniciativa de convidá-lo para um encontro e ele aceitou prontamente. Já nos conhecíamos de uma ocasião similar. O almoço aconteceu num restaurante dos Jardins, em São Paulo, e tinha o objetivo de “desarmar os espíritos”, daquela briga sem sentido em que o GAP, ANAMI e Beto tinham se envolvido.

Beto abriu a conversa com uma confissão surpreendente: ele queria participar do GAP. Enfim, não nos surpreendeu sua decisão, já que numa vez anterior ele reconheceu que os circos tinham feito coisas muito erradas com os chimpanzés e outros animais, e ele já estava abandonando a profissão de circense, da qual chegou a ser a figura mor no Brasil, e concentraria seus esforços empresariais no Parque e nos brinquedos que o caracterizavam. A seguir me confessou que o Zoológico já não atrai mais visitantes, não é mais um gerador de rendas; os brinquedos e o Parque temático são o futuro.

Então, começamos a entrar nos detalhes de uma possível colaboração futura. Falei para ele que ele teria que desativar o Zoológico, entregar os chimpanzés ao nosso Santuário e aí ele poderia ser considerado um defensor dos grandes primatas e um membro de nossa organização.

Quando o deixei na frente do seu escritório, na Avenida 9 de Julho, em São Paulo, combinamos que íamos trabalhar um acordo nesse sentido e ambos deixariam as brigas para trás, pelo bem dos chimpanzés, que no final não tinhamporque pagar pelas consequências das vaidades humanas. Uma semana depois Beto morreu.

Eu não sabia que ele tinha estado nos Estados Unidos, que tinha se submetido a uma intervenção cirúrgica e que sua saúde ficou debilitada nos últimos tempos. Ele não transparecia que estava à beira da morte quando nos encontramos.

Se ele tivesse sobrevivido àquela conversa história, da qual eu sou a única testemunha, teria mudado radicalmente a luta pelos direitos dos grandes primatas e animais no país. Beto estava convencido de que a época da exploração animal tinha acabado e ele estava disposto a reconhecer os erros cometidos e retificar publicamente a conduta, convertendo-se num defensor da causa animal.

Novamente, agora, uma oportunidade surge para que os sucessores de seu empreendimento, se em algo apreciam a história de vida de Beto, que ia mudar radicalmente, o façam.

O Parque Beto Carrero World está programando um espetáculo musical internacional em novembro. Esse espetáculo, pelos níveis de sons que serão emitidos, perturbarão profundamente – durante dois dias – os animais que residem no Zoológico, que ainda existe como parte do Parque. O IBAMA anunciou que não permitirá a celebração do evento se não estiver claro que os sons não atingirão os animais. A empresa que está organizando o evento alegou que têm condições de criar barreiras para evitar a difusão do som até o Zoológico. O IBAMA insiste que isso não é garantido – e duvidamos que possa ser realmente –  e define que eles deverão retirar os animais se desejam fazer o espetáculo.

A oportunidade é agora, e não só por uma única vez. Desativando o Zoológico que funciona no Parque para sempre, eles estariam livres desses obstáculos, e este e outros espetáculos poderão ser realizados, dando o sustento real que o Parque precisa para ser uma empresa lucrativa.

Nesta oportunidade e invocando o pensamento do Beto Carrero poucos antes de morrer, oferecemos à direção do Parque e às autoridades ambientais a nossa colaboração para desativar o Zoológico, dar acolhida aos animais – em especial os chimpanzés, para que a vontade daquele que compreendeu que os tempos são outros, e que os animais não devem ser usados mais no entretenimento do público, seja cumprida.

A direção do Beto Carrero World e as autoridades ambientais têm a palavra!