Opinião: Um zoológico jamais será um santuário!
postado em 19 jan 2010

Quando, ao término da novela “Caras e Bocas”, da rede Globo, o ator Marcos Pasquim disse que a chimpanzé Kate iria para um “Santuário para a Preservação da Vida selvagem”, onde “nunca mais será usada para a função de entretenimento”, fomos tomados por um instante de surpresa e alegria. Porém, logo após esses dizeres, o que vimos nada tinha a ver com um santuário. A fachada camuflada do então “Centro de Primatologia do Beto Carrero”, que nada mais é do que um zoológico dentro de um parque de diversões, mostrava a mentira que foi contada ao público.

De acordo com a Instrução Normativa nº169, de 20 de fevereiro de 2008, divulgada pelo IBAMA, um mantenedor de fauna silvestre, em termos técnicos, se define como todo empreendimento autorizado pelo Ibama, de pessoa física ou jurídica, com finalidade de: criar e manter espécimes de fauna silvestre em cativeiro, sendo proibida a reprodução. Por convenção, o termo Santuário é usado para designar um mantenedor de fauna silvestre.

Ainda de acordo com a IN, um jardim zoológico é um empreendimento autorizado pelo Ibama, de pessoa física ou jurídica, constituído de coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à visitação pública, para atender a finalidades científicas, conservacionistas, educativas e sócio-culturais.

Basicamente, a diferença está na permissão da visitação pública, o que é um fator altamente estressante e danoso à saúde e bem-estar de qualquer ser vivo, principalmente pelas condições ambientais aos quais são submetidos, deixando-os confinados em recintos diminutos e inadequados, muito próximos ao público e aos barulhos.

Assim, como é que se pode dizer que a ilha para onde Kate voltou, “se transforme” da noite pra o dia, em um santuário? Uma ilha de 180m2, circundada por um trenzinho que passa apitando e com música alta, de meia em meia hora, levando turistas gritando e assediando os chimpanzés, jamais poderá ser considerada um santuário.

Aquilo que foi dito ao final da novela, e veiculado pela mídia, através de jornais e revistas, dizendo que Kate iria se aposentar em um santuário, não passou de mentira. Kate voltou para a exploração de um zoológico, e continuará sendo usada para o entretenimento humano. Por mais que uma novela seja uma obra de ficção, seu final deveria ter um cunho de realidade, como o próprio autor ressaltou. Mas o descanso e o sossego mais que merecido à pobre Kate, não passou de uma promessa barata.

MSc. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo