Opinião: A lógica nada lógica dos zoológicos
postado em 09 dez 2009

Um dia desses entrei no Google com os dizeres “qual a importância dos zoológicos”. Entre um site e outro, encontrei um que trazia pontualmente três argumentos que todo defensor dessa atividade comercial sempre usa.

Dizem que há algum tempo, os zoológicos modernos vêm tentando melhorar o conceito que muitas pessoas têm destas instituições, já que antigamente, os zoológicos trabalhavam apenas com a exposição de animais, servindo apenas como "vitrine" de bichos e um local de lazer e divertimento humano. Para os defensores desse comércio, essas instituições devem ser valorizadas e reconhecidas pelas pessoas por desenvolverem importantes funções, tais como:

• Conservação:
através da reprodução de espécies, principalmente as que estão ameaçadas de extinção, os zoológicos vêm auxiliando no aumento do número de indivíduos, os quais podem ser enviados para um local onde o animal reaprenda a viver na natureza, fazendo assim, o repovoamento de locais desequilibrados. (Notem, no entanto, que a reintrodução dessas espécies na natureza não é uma regra, e está longe de ser uma verdade. É sempre algo que “pode ser feito”, mas que na realidade ninguém faz. Assim, o que fazem é a reprodução para a permuta entre zoológicos, ignorando o bem-estar e a real necessidade de se alocar as espécies no ambiente natural);

• Pesquisa: para se conseguir a reprodução, os animais devem estar num local adequado, semelhante ao seu ambiente natural, a alimentação deve ser balanceada e o animal deve estar em ótimo estado de saúde. Para tanto, vários projetos de pesquisa são desenvolvidos no zoológico, como Plano de Manejo de Pequenos Felinos Brasileiros, o Plano de Manejo de Canídeos, Projeto Lobo-Guará e outros. Além disso, os animais do zoológico podem ser alvo de pesquisa de cientistas e estudantes, assim não se torna necessário que o animal seja retirado da natureza.
(Condições adequadas e próximas ao seu habita natural é uma obrigação dos zoológicos, mas o que vemos são recintos minúsculos, em situação precária, com acúmulo de animais, onde vale a regra “quanto mais, melhor”. Além disso, não se observa nenhum comportamento normal dos animais, pelo contrário. São seres perturbados, com estereotipias e comportamentos que beiram a loucura, muito aquém de suas manifestações naturais);

• Educação: o zoológico funciona como uma sala de aula aberta e dinâmica, com amostras de uma pequena parte da fauna silvestre brasileira e exótica, além de ecossistemas ocupados por estes animais. Através desse museu vivo, se torna fácil mostrar aos visitantes, principalmente às crianças, a importância do equilíbrio entre o homem e o seu ambiente.
(A maior das incoerências é dizer que um zoológico preza pela educação ambiental, afinal, mostrar seres aprisionados, transtornados, e fora de seus habitats e comportamentos naturais, não é educar e dar bom exemplo a ninguém. O que se ensina é o ato de exploração comercial, confinando animais à condições inadequadas).

Assim, tais argumentos rapidamente são derrubados e fazem com que a questão seja novamente pensada: há, de fato, alguma lógica em se trancafiar seres inocentes em recintos diminutos e inadequados, sendo constantemente assediados pelo público, simplesmente para o divertimento das pessoas?

MSc. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo