OMEGA CHEGOU!
Pouco antes das 20 horas da terça-feira 9 de novembro, o avião dos Emirados Árabes pousou suavemente no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Em seu interior tinha um passageiro inédito e singular – um chimpanzé macho de 12 anos de idade, de sugestivo nome de Omega – que em sua curta vida, desde que seus pais foram mortos em algum país da África Central e ainda bebê, foi contrabandeado para o Líbano. Como muitos de sua espécie, já teve experiências que nenhum adolescente humano passou.
Omega foi garçom, servia clientes de um bar de quinta categoria numa localidade perdida no sul do Líbano. Daí foi parar em uma gaiola de ferro e cimento em um zoológico que era a ante-sala do inferno. Lá foi viciado em fumo ,que era jogado por visitantes a fim de rir dele e humilhá-lo ainda mais.
Jason Meier o encontrou, como se fosse um desígnio do destino. Omega estendeu sua mão com dificuldade pela grade e viu nele o enviado de Deus, que ele já não acreditava existir neste mundo de humanos sem sentimentos. Jason, executivo da Ong Animal Lebanon, começou a mover céus e terra para conseguir um lar para aquele ser perdido no meio da insanidade humana.
Uma luz no fim do túnel apareceu quando o seu amigo Gerard de Nijs lhe falou do Projeto GAP e do Brasil. Até agora todos os zoológicos tinham lhe fechado as portas. Uma primeira mensagem chegou a nós, pedimos detalhes e fotos. O Instituto Conservacionista Anami, que recentemente tinha recebido outros dois chimpanzés de Israel, abriu suas portas generosas para aquele solitário jovem primata, que começou a acreditar de novo na vida e na compaixão humana.
Durante vários meses, todas as burocracias foram vencidas e o Ibama respondeu a altura de um país que aprecia a Biodiversidade, a maior do Planeta e não poderia negar ajudar a um primata africano e a um país como o Líbano, que vive atrasado nas leis de proteção animal.
Omega já está em território brasileiro e em poucas horas mais estará no seu destino final: o Santuário de Grandes Primatas do Paraná, um dos melhores do mundo, onde Anita e Milan Starostik dedicam grande parte de suas vidas a cuidar de uma vintena de chimpanzés como Omega e centenas de outros animais resgatados da sevicia e da tortura de circos e zoológicos.
O zoológico do Líbano foi fechado por maus tratos, como muitos que existem no mundo, e outros animais ainda não conseguiram um destino. Omega talvez desperte a compaixão de outros centros que possam dar abrigo aos que ficaram para trás: sete macacos, uma hiena e várias aves.
Omega está a caminho do paraíso. Dr. Miguel Vaudano, do GAP, foi o primeiro que conseguiu vê-lo, dentro de sua gaiola no aeroporto. Ele terá que esquecer o vício do cigarro, um mal que os humanos lhe causaram, e deverá aprender português. Este chimpanzé é um sobrevivente como muitos de seus irmãos e ele está disposto a viver e ser normal, fugindo das depressões e angústias que aquele cativeiro maldito do passado criou e que foi erradicado de sua vida.
Os chimpanzés de todos os santuários brasileiros saúdam a chegada de Omega e dão boas vindas!
(redigido na madrugada de quarta-feira – 10 de novembro de 2010)
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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