por Claudia Visoni (http://www.conectar.com.br/blog/)
Humanos e chimpanzés são iguais em quase tudo. Mas enquanto andamos por aí nos achando os donos do mundo, eles sofrem com a destruição de seu habitat, o tráfico, o aprisionamento em zoológicos e a exploração em espetáculos.
Cheia de trabalho, pouco tenho ido ao cinema e por isso vou esperar pelo DVD de “Planeta dos Macacos – A Origem”. Em compensação, encontrei filmes e relatos muito mais interessantes sobre nossos primos no site do Projeto GAP Internacional (www.projetogap.org.br). O movimento, que desde 2008 tem sede no Brasil e é presidido pelo microbiologista Pedro Ynterian, tem três santuários (assim são chamados os abrigos) afiliados em cidades do interior de São Paulo e um no Paraná. Fica em Sorocaba o primeiro e o maior deles, que acolhe cerca de 300 bichos, entre eles 53 chimpanzés.
Olhando o DNA, os humanos e seus parentes mais próximos são 99,4% idênticos. Aliás, acabo de aprender dá para fazer transfusões de sangue entre homens e chimpanzés. Lendo sobre algumas particularidades dos hóspedes do Projeto GAP, confirmo que as diferenças psicológicas entre nós e os chimpanzés são bem menores do que gostamos de pensar. Olha só:
Tudo seria muito fofo, caso o Projeto GAP não tivesse surgido para amenizar terríveis agressões que os seres humanos causam aos demais primatas. A primeira delas é continuar destruindo florestas e desalojando as populações animais pelo mundo afora. Os poucos sobreviventes das queimadas e desmatamentos tornam-se "homeless". Os outros problemas são o tráfico internacional de animais, os espetáculos e os zoológicos. Pedro é quem explica: “Os truques de circo que os animais fazem são comportamentos antinaturais, obtidos em geral por meio de maus tratos e torturas. Muitos dos bichos que chegam aqui tiveram os dentes arrancados, foram castrados e mutilados de diversas formas. Já os que vieram de zoológicos às vezes estão ainda piores, pois a tortura que sofreram é psicológica. A falta de espaço, estímulo, privacidade e convívio com outros indivíduos da mesma espécie deixa muitos deles irremediavelmente loucos.”
Ainda não existe uma lei que proíba circos com animais em todo o pais – um projeto está tramitando no Governo desde 2006 -, mas 9 estados e mais de 50 cidades brasileiras já têm leis que proíbem animais no picadeiro. Só que muitos ex-artistas sobraram por aí. Hoje são cerca de 150 leões abandonados no país e uns 20 ursos ainda trancafiados, sem ter para onde ir. Dos 111 zoos registrados no território nacional, 77 têm situação irregular. No exterior, o movimento antizoológico começa a ganhar fôlego. Por aqui, a causa ainda é desconhecida e quase não possui adeptos.
Esse é um assunto complicado de abordar, até para uma ecochata como eu. A maioria das pessoas guarda boas recordações infantis de passeios no zoológico e quer passar para os filhos a tradição. Com tanto documentário excelente, acho dispensável e deprê ir visitar animais encarcerados. Essa não é uma opinião racional e sim resultado de um trauma que vivi. Explico: a última vez que apareci no zoo paulistano faz décadas e foi uma experiência radical no pior sentido. Percebi a angústia dos detentos com muita intensidade. Num certo momento, justamente na área dos chimpanzés, entrei em contato visual com um senhor idoso. Durante longos minutos, eu olhava imóvel para os olhos dele e ele para os meus. Eu via depressão, frustração, raiva e desespero por uma vida desperdiçada entre grades e sem privacidade. Entramos numa espécie de sintonia telepática e ele continuava a me encarar. Fiquei péssima e, enquanto tentava segurar o choro, pedia perdão silenciosamente por fazer parte da espécie homo sapiens. Sapiens?
Nunca mais pisei num zoológico. Quando quiseram ir, meus filhos tiveram outros acompanhantes. Conhecer o Projeto GAP e saber que não sou a única a pensar assim trouxe um sentimento de alívio.