O sorriso de Sinbad
postado em 26 jun 2012

SANTUARIO SAVE THE CHIMPS

Ninguém sabe onde nasceu, talvez na África entre 1964 e 1971. Depois foi trazido aos Estados Unidos por algum zoológico ou particular. A primeira informação de sua existência, numa folha de papel de um centro de tortura médica, chamado Buckshire Corporation, datado de 16 de outubro de 1984, o descrevia como um macho adulto procedente de um zoológico particular.

No dia 28 de dezembro de 1984 Sinbad começou sua vida tenebrosa nas mãos de pesquisadores médicos. Entrou na Ex-Fundação Coulston e foi designado para o setor de testes biomédicos. Nos oito meses seguintes, Sinbad foi anestesiado com Ketamina através de dardos, uma vez por semana, a fim de tirar sangue e fazer biópsias do fígado. Após oito meses foi anestesiado uma vez por mês, terminando esta experiência em fevereiro de 1986.

Porém, o pior ainda não tinha acontecido. Em 1988, Sinbad foi escolhido para ser a cobaia de um anticorpo monoclonal que atingiria células cancerosas. Como Sinbad não tinha câncer, entende-se que o que estava sendo determinado era a toxicidade da medicação. Pelas duas semanas seguintes, Sinbad foi anestesiado a cada três dias e inoculado com a droga experimental. Ficou doente de imediato e suspenderam a experiência.

Não satisfeitos com a destruição daquele corpo já debilitado, em 1992 ele foi anestesiado por cinco dias seguidos para inoculação,  via um tubo em seu estômago, de um outro material que estava sendo testado. Quando um chimpanzé é anestesiado, não pode ingerir alimentos, então durante cinco dias praticamente ele não comeu nada, até que o teste foi mudado.

Em 1995, Sinbad estava na fila para outra série de experiências, mas descobriram que padecia de arritmia e teve que ser aposentado. Durante sete anos, ele foi colocado sozinho no chamado “calabouço”, sem ver o sol e nem ninguém. Lá foi encontrado pela primatóloga Carole Noon, quando sua organização comprou as instalações da Fundação Coulston, que estava falida, em 2002. Em 16 de dezembro de 2009, Sinbad chegou ao Santuário da Flórida, como parte do chamado Grupo de Bobby. Ele amava passava tempo na ilha, desfrutando do sol e andando no grama.

Enquanto esperava vir para Flórida ele conheceu Whoopi, chimpanzé fêmea, que estava profundamente perturbada pelos maus tratos recebidos em vários centros de tortura médica. Uma sólida amizade se desenvolveu entre ambos, que ajudou Whoopi a superar sua loucura.

Um dos tratadores do Santuário relembra um episódio, que mostra o senso de humanidade de Sinbad: “Um dia estava chovendo muito forte, Sinbad era o único na parte externa da ilha. Eu usava uma capa de chuva e tinha que secar constantemente a face pela água que escorregava. Sinbad decidiu voltar ao dormitório, quando a chuva se fez mais intensa. Ele estava totalmente molhado e me observava como eu me secava com a toalha e terminei dando uma para ele. Ele secou sua face e suas mãos, depois colocou a toalha nas suas costas, como fazem os humanos e também a secou, como se tivesse saído de um banho de chuveiro.”

No dia 18 de maio passado, antes do almoço, ele caiu de repente por um ataque cardíaco. Foi ressuscitado e montado um tratamento intensivo, mas seu coração debilitado não resistiu e terminou morrendo horas mais tarde.

Sinbad, apesar do que sofreu em mãos de humanos sem consciência, ainda era capaz de sorrir. E aquela imagem dele sorrindo, diante de qualquer agrado ou a algum afago de um tratador, ficará gravado para sempre nas imagens dos que trabalham e lutam para manter aqueles centros de chimpanzés vivos e felizes.

Sinbad, perdoe o que fizeram contigo. Pelo menos nos últimos anos de tua vida, encontrou humanos que sabiam amar.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional