Nove em cada dez animais silvestres retirados irregularmente
do seu habitat natural morrem pouco tempo depois
de sua captura. Os dados alarmantes são do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – o Ibama. Uma das espécies que se torna
vítima das ações do homem é justamente as que apresentam
características mais semelhantes com as humanas:
os macacos.
Para lutar pela garantia da liberdade e não-tortura dos
grandes primatas não humanos, tais como Chimpanzés, Gorilas,
Orangotangos e Bonobos, um movimento internacional
busca mudar este quadro atuando, desde a década de
90, no tratamento e reabilitação dos animais, trata-se do
Great Ape Project, conhecidos por aqui como Projeto GAP.
No Brasil, o Projeto GAP tem quatro grandes áreas afiliadas
ao projeto. Estes locais são conhecidos como santuários.
No total há 85 chimpanzés e um orangotango. No
santuário de Sorocaba, o primeiro e o maior do País, além
dos chimpanzés há primatas menores, aves e outros animais
silvestres oriundos de resgates de circos, como 11
leões, dois tigres e três ursos.
Os recintos atendem todas as normas do Ibama e são
dotados de área interna para alimentação e dormitório com
interligações com vastas áreas externas dotadas de plataformas
e solário, onde os chimpanzés podem brincar, correr,
se socializar e se exercitar. Os santuários contam com
profissionais que fazem atendimento de saúde e desenvolvem
atividades de enriquecimento ambiental, visando a
qualidade de vida dos chimpanzés em cativeiro.
Os santuários não são como parques ou zoológicos,
pois são fechados para visitação. A ideia é que o animal
não seja exposto ao público para evitar problemas em seu
convívio. Nos santuários, a prioridade é o bem-estar dos
animais, proporcionando-lhes a melhor qualidade de vida
possível em cativeiro, sem nenhum tipo de exploração ou
estresse. Especialistas dizem que animais que crescem no
convívio humano têm dificuldades ao retorno à natureza já
que, durante esse convívio, deixam de desenvolver comportamentos
essenciais para sua sobrevivência na floresta.
Por isso, o cuidado especializado é fundamental.
CIDADANIA
Segundo Jaqueline Ramos, gerente de comunicação
do projeto, o GAP é um movimento de divulgação de informações.
Já os santuários afiliados ao projeto são consultados
pelos órgãos competentes (Ibama, Polícia Federal,
Secretarias de Meio Ambiente, Ministério Público,
etc) quando estes resgatam os animais vítimas de maus tratos,
seja de circos, zoológicos mal estruturados ou de
pessoas particulares que os exploravam e não tinham
para onde destinar. “Quando o santuário do GAP é consultado
é feita uma avaliação para ver a possibilidade de
receber o animal e, normalmente, uma equipe do projeto
dá suporte técnico no resgate, como acompanhamento
de veterinário especializado para grandes primatas, principalmente”,
explica Jaqueline. “O acompanhamento dos
animais é feito por uma equipe própria e especializada,
composta por veterinários, biólogos e tratadores que,
além dos cuidados básicos, estudam formas de enriquecimento
ambiental para estimular os animais”.
Homem e macaco
Billy, Ditty, Pedrinho, Guga, Cláudio, Peter e Johnny
são só alguns dos primatas que vivem
nos santuários do GAP. Cada um tem uma
história interessante no convívio diário com
os funcionários do Projeto. As atitudes
dos animais surpreendem e comprovam
as semelhanças com as características
humanas.
A gerente conta que a relação dos
primatas com a equipe é de respeito,
confiança e amizade. Em pouco tempo
eles percebem que são tratados
da forma como merecem e cada um
cria elos maiores com uma pessoa ou
outra, de acordo com empatia pessoal.
Em geral, todos se destacam pela
inteligência e perspicácia, cada um ao
seu jeito.
“É uma sensação de satisfação e orgulho
enorme por colaborar, cada um da sua
forma, numa luta tão nobre como esta. O
exercício de respeitar os grandes primatas faz
a gente repensar uma série de valores e, no final,
vemos o quanto é importante que o homem
tenha a visão de respeito a todas as formas de
vida, em nome de sua própria qualidade de vida no
planeta”, finaliza Jaqueline.
Você sabia?
Todos os grandes primatas pertencem ao
grupo dos antropóides, mas a semelhança
maior é encontrada entre humanos e chimpanzés.
Partilhamos 99,4% de DNA e podemos
doar sangue entre as duas espécies.
Por tamanha semelhança, o biólogo norte-americano
Morris Goodman, da Universidade
Estadual de Wayne, lidera a corrente que
sugere que o chimpanzé deve ser incluído
no gênero humano, passando de Pan troglodytes
para Homo troglodytes.
Fonte: Revista Alvo Leste – Edição 68 de Junho 2012 – Páginas 24 e 26