O Respeito à Escolha: Um Direito que não Pode ser Ignorado
postado em 07 nov 2003

Na maioria dos Santuários, Zoológicos e Cativeiros de Grandes Primatas os Humanos decidem tudo. A que hora eles devem comer, dormir, com quem viver, brincar, se relacionar intimamente, etc. Achamos que ninguém nunca observou e até perguntou a um chimpanzé os seus desejos, anseios, preferências, em fim, sua escolha. Talvez, é nisso que está a maior revolta desses seres com os humanos, que determinam tudo e em todo momento os fatos de suas vidas. Seres inteligentes, com extraordinárias percepções, com uma curiosidade fora do comum, uma esperteza e inventividade aguda, sem dúvida, que não aceitam essas imposições sem rebelião.
Vejamos este exemplo: Leo é adolescente, dorme sozinho, porém durante o dia fica com Noel, Samantha e às vezes com Guga, na área com cerca elétrica, brincando boa parte do tempo. Dias atrás juntamos Leo de 8 anos de idade, com Tuca, fêmea de 33 anos de idade. No início de sua chegada ele demonstrou alguma atração à distância por Tuca e ela também. O contato inicial foi positivo pois se abraçaram, trocaram afagos e ficaram juntos alguns dias. Tuca monopolizou o dormitório, pegou as duas cobertas, o feno, fez seu ninho e não deixou nada para Leo. Este já estava acostumado a ficar em seu dormitório, fechar a porta e abrí-la quando desejava, e não ser perturbado nessas horas de descanso. A atitude de Tuca azedou a relação entre ambos. Leo então decidiu não entrar mais no recinto com muros no fim da tarde. Ficava do lado de fora, no túnel, até o anoitecer e então entrava, porém incomodado. Ele queria nos dar a mensagem: “ou tiram a Tuca do meu dormitório ou me coloque em outro”.

Então tomamos a decisão de fazer a vontade dele. Tiramos Tuca do recinto, a devolvemos ao grupo principal de Gilberto, Lulu e Margarethe, e devolvemos à Leo o seu dormitório. Desde esse instante, ele voltou a sua rotina, tão cedo abríamos o túnel, entrava no recinto com muros e depois ia para o seu dormitório, fechava a porta e ia descansar.

Também perguntamos a Tuca aonde ela queria voltar. Mostramos a alternativa com Pongo, ela não se interessou, quando a colocamos perto de Gilberto ela mostrou grande interesse em voltar com ele. Tuca tem uma paixão não correspondida por Gilberto, e assim voltou a sua origem.

Este relato é importante para saber interpretar que os chimpanzés são seres sensíveis, inteligentes, com emoções, desejos e paixões. Não podemos pensar e decidir por eles, na medida das possibilidades do cativeiro devemos saber interpretá-los e concordar com suas preferências.