O Resgate de Caíke
postado em 03 out 2005

No dia 21 de setembro passado, recebemos uma mensagem dramática por e-mail, de um jovem ambientalista de Curitiba, Lydvar Przybylovicz, que aqui reproduzimos:

?—– Original Message —–
From: Lydvar Przybylovicz
To: projetogap@projetogap.com.br
Sent: Wednesday, September 21, 2005 1:54 PM
Subject: Chimpanzé de circo
Prezados;
Sou voluntário em uma ONG de Curitiba, informal, de trabalho voluntário e sem fins lucrativos, que atualmente ocupa-se em documentar, apresentar projetos de lei ou prover material informativo destinados à proteção animal.
De início, parabenizo pelo trabalho exemplar que vocês tem desempenhado em nosso país pelo bem dos primatas e não menos, da sociedade. Li o livro ‘Nossos Irmãos Esquecidos’ e fiquei feliz pela língua portuguesa ganhar uma obra de tão grande importância neste segmento ainda tão limitado, no Brasil. E a página eletrônica do Projeto GAP no Brasil tem sido um estímulo à proteção animal em nosso território.
Bem, vamos ao motivo pelo qual escrevo… Na primeira semana do mês, fotografei um circo em um município litorâneo aqui do Paraná, Paranaguá. E mais exatamente o circo que leva o nome de Circo Portugal. Acompanhei-o por 3 dias e registrei em fotos as condições dos animais. Além do péssimo estado de uma das elefantas -visivelmente em estado de estresse-, outro animal que me chamou a atenção foi um chimpanzé macho, que recebe o nome de Caíke. Estou chocado até o momento pelas cenas que testemunhei. A abertura da carreta é a do tipo que abre para cima, no entanto, ela é levantada o suficiente apenas para ventilação. Foi preciso abaixar-me e me espremer para por a cabeça junto à jaula, devido à abertura ser mínima. A jaula fica tão escura que a vista precisa se acostumar com o ambiente. Lá dentro, naquela escuridão não acreditava que estaria algum animal. Mas ele estava lá e o quadro até agora não me sai da cabeça. O chão todo úmido, misturava água (provavelmente das chuvas dos dias anteriores) com restos de comida. Restos de frutas, sacolas plásticas, embalagens plásticas e o cobertor do animal, totalmente encharcado e o animal pisando naquela “lama” toda. Já vi vários vídeos de confinamentos precários, mas este me chocou. Um animal aparentemente tão dócil numa imundície e escuridão desumanas que não me lembro de ter visto igual em qualquer outro lugar ou denúncia. Não bastasse, o animal vive (mesmo dentro da jaula) com uma corrente ao pescoço, presa por cadeado.
Observei o circo nos dias seguintes e a rotina do animal é a mesma. A abertura da jaula é sempre a mesma também. Quase que por acaso, em contato com a fotógrafa Cristiane Coutinho (que faz reportagens para vários dos programas da RPC Globo PR), recebi fotos que ela havia registrado no circo, uma semana antes, exatamente por ter chamado a sua atenção o estado precário do animal. Ela, também sensibilizada, me forneceu as fotos, que envio com algumas das que tirei.
Ontem, este circo estreiou aqui em Curitiba. E ontem vi no Jornal do SBT, jornal televisivo da noite, uma reportagem de um chimpanzé que alguma organização está solicitando transferência para o zoológico de Sorocaba, pois no zoológico onde ele se encontra, o espaço e as condições estão estressando o animal. Não sei os detalhes, mas acho que vocês devem saber. Enfim, quando vi o espaço que aquele chimpanzé está, lembrei que para o animal do circo seria um Jardim do Éden.
Resolvi deixar minhas coisas cotidianas para entrar em contato com vocês, e questionar. Há alguma possibilidade de se fazer algo por aquele infeliz animal, do circo? Estou à disposição de vocês para o que eu puder fazer. Preciso de orientação sobre o caso, que só vocês podem dar, mas queria saber se o Santuário GAP acomoda novos animais e da possibilidade de se solicitar aos órgãos ambientais a posse deste animal. Ele, apesar de não estar mutilações vive num ambiente que considero impossível ser aceito como tolerável. O que vocês podem me dizer sobre o caso? Por favor, aguardo uma observação sobre o assunto e gostaria de ser útil da melhor maneira possível.
De momento, agradeço a atenção.
Lydvar Przybylovicz
Curitiba ? PR?

Imediatamente nos comunicamos com o Santuário de Millan e Anita Starostik em Curitiba, para que eles visitassem o Circo e tentassem convencer os donos a entregar o Caíke. Ao mesmo tempo notificamos ao IBAMA de Brasília sobre a situação de urgência. O Coordenador Geral de Fauna de IBAMA-Brasília, Dr. Ricardo José Soavinsky notificou de imediato ao IBAMA do Paraná, a fim de que tomasse as providências e coordenasse com o Santuário de Curitiba, a recepção do Chimpanzé.
Os donos do Circo cederam e entregaram o Chimpanzé ao Santuário, que só tem bebês órfãos, cinco no momento. Eles tiveram que construir às pressas um local para manter Caíke separado dos bebês, até iniciar uma aproximação e uma possível integração com alguns deles. Caíke foi transferido na sexta-feira, dia 23 de setembro para o Santuário, e saiu daquele inferno em que vivia.
Como no caso do Chimpanzé Leo, que um outro jovem humano o salvou da vida miserável que levava, neste caso outro jovem humano salvou a vida deste Chimpanzé alegre, meigo, jovem, para poder viver com seus iguais e ter a oportunidade de ser feliz.
Essa é a maior colaboração que a população pode fazer aos Grandes Primatas, onde quer que exista um Circo ou um Zoológico que tenha Chimpanzés sozinhos, em condições precárias de sobrevivência, denuncie o fato e comunique-nos o caso, que esta rede gigantesca de proteção que está se formando, tenham certeza salvará a vida daqueles inocentes sem destino.