O massacre dos gorilas
postado em 16 ago 2007

(Reprodução de matéria publicada na Revista Época n° 482 de 13.08.2007)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
O massacre dos gorilas
Apesar dos filmes, da pressão internacional e dos milhões gastos para preservá-los, continua a matança dos últimos espécimes na África
por ALEXANDRE MANSUR

O massacre de alguns dos últimos gorilas selvagens provocou o medo de que a espécie, uma das mais próximas dos humanos, esteja perto da extinção. Nos últimos dois meses, sete animais foram mortos nas montanhas do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Um deles era uma fêmea grávida. Os guardas-florestais que descobriram os corpos não sabem quem matou os animais. Se fossem caçadores comuns, eles teriam levado os corpos para vender parte deles ou as peles. Outro ponto misterioso: os matadores dos gorilas deixaram para trás um filhote ao lado de uma das fêmeas assassinadas. O pequeno gorila valeria milhares de dólares no mercado negro de colecionadores.
Independentemente de sua motivação, o massacre dos gorilas gera preocupação internacional. A região abriga mais da metade dos cerca de 700 gorilas que ainda vivem na natureza. A questão eternizada pelo trabalho da pesquisadora americana Dian Fossey, que viveu entre os gorilas nas décadas de 60 e 70. A atriz Sigourney Weaver viveu o papel de Fossey no filme Montanha dos Gorilas (1988) e é uma das patrocinadoras dos projetos de preservação no Congo.
O assassinato em série de gorilas mostra que esse esforço recente para preservá-los ainda é insuficiente. Na última década, os gorilas da região viviam no fogo cruzado de uma guerra étnica que matou cerca de 4 milhões de pessoas. Em 12 anos, 120 guardas-florestais foram mortos. Ainda hoje, grupos de milicianos de duas etnias rivais – tutsis e hutus – fazem emboscadas na mata. Desde o ano passado, as eleições no Congo sugeriam uma estabilização política nas montanhas dos gorilas. Graças ao trabalho de ONGs e a milhões de dólares de investimentos, a população local apóia o esforço de conservação. “Nós amamos esses animais”, diz Jean-Marie Serundori, que ajudou a carregar um dos corpos dos gorilas mortos montanha abaixo. A principal suspeita para o massacre recente é a máfia das carvoarias, que precisaria matar gorilas para derrubar e queimar as florestas locais.
A espécie, com os chimpanzés e os bonobos, é a mais próxima dos humanos na linha evolutiva. Estudar esses animais na natureza é a principal fonte de informações para inferir como eram o comportamento e a estrutura social de nossos antepassados. A perda dos gorilas, além de deixar o planeta biologicamente mais pobre, apaga para sempre parte de nosso passado. “Quando um animal morre assim, você vê os absurdos do homem”, diz Paulin Ngobobo, chefe da Guarda-Florestal do parque.

Foto: Brent Stirton/Getty Images

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78535-6010-482,00.html