O homem que vai salvar Borneo
postado em 24 mar 2010

WILLIE SMITS

Willie Smits um dia achou um bebê orangotango fêmea, dentro de uma pequena jaula no mercado de Borneo, e quando seus olhos se cruzaram “viu lá o olhar mais triste da terra”. Mais tarde a encontrou morrendo já sem jaula. Ele a pegou e a levou para sua casa, e hoje, ela vive em seu santuário, com seus filhos e netos, junto com mais 1.000 orangotangos.

Willie Smits, que é um microbiologista como eu, surpreende as platéias do mundo, em suas conferências, quando anunciam que ele tem um santuário com 1.000 orangotangos … “Não, não, vocês não entendem? Eu cuido de mais orangotangos que todos os zoológicos no mundo porque fomos incapazes de protegê-los nas florestas". Para ele é a confissão do fracasso da humanidade em proteger as riquezas do planeta.

Orangotangos estão perdendo seu habitat para o desmatamento feroz que ocorre na Indonésia. Florestas inteiras são queimadas, arrasadas para dar lugar a plantações de palmas que produzem óleo, vendido como biocombustível. A Indonésia não tem quase indústrias, porém, é um dos maiores poluidores mundiais, só perde para China e Estados Unidos, devido à destruição das florestas.

Para salvar os orangotangos, Smits precisa salvar as florestas e salvando-as, também salvará Borneo. Atualmente ele está com um projeto de reconstruir a floresta na área de Samboja Lestari, no leste de Borneo, que foi convertida em um deserto biológico pelo desmatamento. O governo indonésio se interessou pelo projeto, que já criou 3.000 novos empregos, e junto com as árvores, foram introduzidos pássaros, lagartos e primatas na área, mas não tem sido fácil.

Smits teve que dar um dia seis palmas de água doce ao seu sogro, quando se comprometeu e casou com a filha dele, uma princesa indonésia. Aí descobriu a salvação para Borneo, aquelas palmas produzem água doce diariamente, que podem ser usadas como combustível, com um rendimento três vezes maior que qualquer outra planta, e não precisa destruir nada, só replantar nas áreas degradadas pelo fogo da destruição. Estas palmas, mais acácias e bambus, uma combinação no reflorestamento que permite ao agricultor voltar a usar suas terras e desenvolver outra vez culturas de abacaxi e feijão, que alimentam homens e orangotangos.

Willie Smits esteve recentemente visitando o Santuário de Grandes Primatas de Wauchula, na Flórida, onde mais de uma dúzia de orangotangos moram, a maioria foram usados nos espetáculos e no cinema. Smits dedicou horas a “conversar” com eles, olhares, gestos, atitudes, a linguagem que ele aprendeu com os orangotangos da selva, que ainda é a mesma forma de comunicação dos orangotangos civilizados urbanos.

Os orangotangos são seres extraordinários, misteriosos, impressionantes, observadores, introvertidos, apaixonados, talvez, o que Willie Smits viu num só olhar naquele bebê abandonado à sua sorte em um mercado popular indonésio.

Dr. Pedro A Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional