O GAP nas Montanhas de Virunga
postado em 23 out 2007

Na trilha dos Gorilas da Montanha

O Projeto GAP da Espanha está acompanhando os acontecimentos na reserva de Gorilas nas Montanhas Virunga, no Congo, onde um grupo de primatas foi morto recentemente, sem uma explicação clara das autoridades daquele país. Susana Cachafeiro, membro do GAP, conseguiu dias atrás contactar Martin Kasereki, um dos guardas florestais do Parque Nacional de Virunga, na República do Congo. Martin, muito emocionado, respondeu às indagações de Susana. Vejamos:

S: Como estão você e seus companheiros?
M: Todos estamos bem, porém muito perturbados pelos acontecimentos, não temos sofrido nenhuma baixa humana, porém os fortes combates tem nos ocasionado um grande problema logístico.

S: Quem e por que tem feito isso? Tem algo a ver com a extração de carvão vegetal na área?
M: Agora mesmo todo o acontecido se encontra em investigação, e não temos certeza de nada. É verdade que estão extraindo carvão vegetal na zona, porém o problema pontual não é esse, senão os fortes enfrentamentos entre as forças do General Laurent Nkunda e o exército regular que se dão nesta área onde estão os últimos gorilas. Podemos dizer que eles se encontram no meio de um campo de batalha.

Outro grande problema é que devido ao desmatamento os gorilas vão às vilas pedir alimentos, e terminam depredando as plantações de milho. Isto está ocasionando grandes perdas aos campesinos locais, que enfrentam os primatas.

De todas as formas, até agora não sabemos quem pode ter assassinado o grupo de gorilas, ainda não se pode acusar ninguém.

S: O problema dos gorilas tem muita importância mundial, por que o Governo não pede ajuda internacional?
M: Já foi solicitada ajuda, porém só algumas poucas organizações de conservação têm demonstrado interesse no que está acontecendo. Nestes dias estarão chegando ao Parque e estarão se organizando.

Com a repercussão que a notícia tem tido, o Governo tem negociado uma trégua com a milícia, e os combates têm cessado.

S: O grupo de Gorilas de Rugendo – como é chamado – foi o atingido?
M: Sim, esse foi o grupo atingido, e nós ficamos muito afetados por isso. Conseguimos resgatar um dos filhotes que está em um centro de recuperação em Goma.

S: Agora que o grupo se encontra perdido e desorientado o que pretendem fazer?
M: Não temos notícia do resto do grupo, temos começado a procurá-los por todas as montanhas, porém até agora, não temos conseguido contato com eles.
Além desta informação, outro membro do GAP, Aisha Bonet, que esteve no Parque após as mortes, levantou a suspeita de que o Grupo de Rugendo, que está formado por 12 gorilas, foi atacado por campesinos dentro do Parque, a 1 Km da vila de Bikenke, matando o líder do grupo, um gorila de costa prateada e quatro fêmeas, quando eles comiam em uma plantação de batatas.

Em um relatório da ONG OXFAM sobre os conflitos africanos, denuncia-se que 284 bilhões de dólares foram gastos em um período de 15 anos (1990-2005) em guerras no continente africano. Em 23 conflitos a África perdeu 18 bilhões de dólares anuais, empobrecendo um continente que já está nos limites da miséria total.

A ONU defende a aprovação de um Tratado sobre o Comércio de Armas para restringir o fluxo ilegal das mesmas, especialmente para regiões consideradas mais vulneráveis, como acontece na África. No ano passado, 153 países aprovaram na Assembléia Geral da ONU o início das discussões para chegar ao Tratado. Somente os Estados Unidos votaram contra. China e Rússia também manifestaram reservas.

Como um exemplo a economia de Burundi, país limítrofe com o Congo, e o Parque de Virunga, foi a que mais sofrera, encolhendo em média 1,1% ao ano entre 1993 e 2005. Sem violência a expectativa de crescimento era de 5,5% anuais.

Esses recursos torrados em conflitos entre humanos, poderiam resolver o problema da AIDS, e prevenir a tuberculose e a malária, além de fornecer água potável, saneamento básico e educação às populações humanas, que não teriam que viver do desmatamento e a exploração das riquezas naturais e a destruição das reservas onde se refugiam os grandes primatas.

Dr. Pedro A. Ynterian
Projeto GAP Internacional