Sabe-se que os chimpanzés realizam o grooming, um ato de cuidado, preservação e carinho entre eles, tais como a retirada de ectoparasitas e sujeiras dos corpos; ato de afagar a pele ou os pêlos de um membro da comunidade a fim de fortalecer os vínculos afetivos e manter a unidade do grupo.
O contato direto e a convivência diária com nossos irmãos chimpanzés despertou em mim sentimentos ambíguos de alegrias e tristezas. A alegria de confiarem em mim, de dividirem seus sentimentos, de me ensinarem muita coisa, de se tornarem meus amigos, mas a tristeza por trazerem as marcas do passado, carregadas em seus corpos ou em seus pensamentos.
A confiança que tenho conquistado a cada dia, mostra a verdadeira face da amizade. Aprendi com eles que, apesar das brutalidades que sofreram com alguns humanos, ainda assim, conseguem superar a raiva e a revolta que deveriam ter em relação aos seres humanos, mostrando cuidado e atenção para conosco.
E foi por essa cumplicidade exemplar que hesitei em reclamar de uns poucos pêlos arrancados durante o grooming de Jhango, ou ainda, das casquinhas de feridas retiradas cuidadosamente por Billy, Alex entre outros. Por mais que possa doer, isso não pode ser chamado de dor. Seria injusto. Atos de cuidado e carinho desse tipo, por mais que causem certa dor, não se comparam a verdadeira dor realmente sofrida por alguns deles, que tiveram seus dentes arrancados, foram torturados com choques, mutilações. Ou ainda, a dor da fome, sede e desnutrição que muitos viveram, a dor das mães que tiveram filhos arrancados de seus braços. E o pior de tudo é que essas dores ocorreram para nosso entretenimento e diversão. Uma dor que realmente fere, incomparável a pseudo-dor de um grooming que visa única e exclusivamente o cuidado para com os outros.
Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo
Santuário do GAP/ Sorocaba