Zoológicos da Europa insistem no intercâmbio de grandes primatas a outros zoológicos da América Latina e outras localidades. O Zoológico de Portugal intercambia chimpanzés com zoológicos brasileiros, zoológicos alemães comercializam orangotangos com zoológicos brasileiros, zoológicos ingleses intercambiam gorilas jovens com zoológicos brasileiros e agora a última informação: um zoológico espanhol está prestes a enviar um orangotango de 19 anos a um zoológico chileno, onde não existem grandes primatas dessa espécie.
Por que isso acontece? Simplesmente zoológicos europeus estão ávidos por espécies exóticas de outros países e por um lado intercambiam aqueles primatas por outras espécies. Em segundo lugar, aparecem na imprensa e na televisão, pousando de “preservadores” das espécies traficadas.
O caso recente de dois gorilas fêmeas jovens, enviadas irresponsavelmente pelos zoológicos da Fundação John Aspinal, britânica, ao zoológico de Belo Horizonte, no Brasil, onde um macho debilitado e doente terminou morrendo, mostra a falta de respeito com esta espécie que tanto britânicos como brasileiros praticaram.
Este “projeto absurdo” permitiu que britânicos e brasileiros fizessem turismo, com dinheiro público para ambos os países, com a justificativa de preparar o terreno para a transferência, que terminou tragicamente.
O caso chileno é mais absurdo ainda. O orangotango Peek nasceu em 1993 no Zoológico de Rotterdam, na Holanda, e foi parar no Zoológico Bioparc Fuengirola, da Espanha. Numa transação que não se sabe o que está no meio, o zoológico espanhol está planejando enviá-lo, em maio, ao zoológico Buin, no Chile, onde nunca tiveram um orangotango, e possivelmente não tem ideia de como mantê-lo.
Qual é o fim deste “comércio” de grandes primatas? Antes de mais nada, promover os zoológicos envolvidos, gerar público e arrecadação de recursos, ganhar visibilidade de propaganda e promover viagens e publicidade para os humanos, de ambas as instituições envolvidas na operação. O orangotango é um mero objeto nas mãos de pessoas que não têm o mínimo compromisso com a preservação desta extraordinária espécie, que não existe para ser submetida ao assédio do público em exibição num zoológico.
Esperamos que o CITES, que foi assim criado para preservar as espécies, pare de autorizar este “comércio” de espécies ameaçadas, que nada contribui para perpetuar sua existência.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: http://www.anda.jor.br/27/02/2013/o-trafico-legal-de-grandes-primatas