O Chimpanzé Norte-americano
postado em 10 ago 2005

Na década de oitenta, o Governo Norte-americano, através do Instituto Nacional de Saúde (NIH), se dedicou a uma frenética aventura de reprodução de chimpanzés dentro de suas fronteiras, após ter comprado de traficantes dezenas de filhotes na África, a custa da morte de seus pais na mata úmida africana. O interesse era desenvolver uma vacina contra a SIDA e que aquela espécie que seria criada serviria para a pesquisa dessa e de outras doenças epidêmicas.

Em pouco mais de 25 anos, 3000 chimpanzés, espécie norte-americana, segundo o Governo, foram trancafiados em laboratórios médicos, para serem submetidos a torturas mais bárbaras que a humanidade presenciou. Além do vírus HIV ? que posteriormente se provou que eram resistentes ? dezenas de doenças, drogas, produtos químicos, etc., que foram inoculados naqueles seres inocentes, que terminaram morrendo por dezenas, e outros os substituíram no sistema reprodutivo acelerado que o NIH montou. Cada bebê chimpanzé custava 60 mil dólares e só o Laboratório Coulston chegou a possuir 600, que vendia ou alugava a outras instituições. Foi um verdadeiro massacre, escondido por trás do véu da salvação da ?raça superior humana?.

Muitas ONGs nos Estados Unidos e no mundo se insurgiram contra aquela aberração da natureza, incluindo o Projeto GAP, e conseguiram após grandes manifestações e lutas, que o Governo Norte- americano terminasse com a experiência macabra. No fim do Governo Clinton, a CHIMPANZEE ACT foi aprovada e como foi insustentável a proposta de eutanasiá-los, foi proibida a continuidade da espécie, suprimindo a reprodução totalmente e os remanescentes destinados a Santuários até o fim de seus dias.

Ainda existem chimpanzés sendo usados em experiências, porém dos 2.500 existentes nos Estados Unidos, 1.500 já estão aposentados. O primeiro Santuário financiado pelo Governo, com uma verba de 30 milhões de dólares, será inaugurado este ano, em Louisiana, CHIMP HAVEN. Outros dois são mantidos pela iniciativa privada: Center for Great Apes, em Wauchula, Flórida, principalmente com primatas que trabalharam no mundo do cinema, e o Santuário Saves the Chimps, em Fort Pierce, Flórida, onde chimpanzés do projeto lunar e 266 do Laboratório Coulston estão sendo transferidos.

Visitando as instalações de Fort Pierce, alguns anos atrás e falando com a conhecida primatóloga Carole Noon, perguntei-lhe qual seria o futuro daquele Santuário, e ela me respondeu friamente, quando o último chimpanzé morrer nós fecharemos as portas e vamos embora. A espécie Pan troglodites, variedade norte-americana, desaparecerá na mesma velocidade que foi criada; em uma geração aquele experimento absurdo, financiado por companhias farmacêuticas e o Governo, será sepultado e as provas da barbárie enterradas.

O mais conhecido jornal do mundo, The New York Times, em sua edição dominical do dia 24 de julho, publicou uma extensa matéria sobre estas experiências com chimpanzés na América e o seu destino final, com uma foto impressionante ? que aqui reproduzimos ? do que era o Laboratório Coulston até que foi fechado e comprado pelas ONGs defensoras dos primatas. A revista Veja, em sua edição 1917, de 10 de agosto, faz um pequeno resumo da matéria do NYTimes, sob o título ?Planeta dos Macacos Aposentados?, que aqui também reproduzimos.

Dr. Pedro A.Ynterian

?Planeta dos Macacos Aposentados

Na história da proteção dos animais, esta é uma novidade: um retiro para chimpanzés aposentados. O Refúgio dos Chimpanzés, que será inaugurado em outubro, é uma iniciativa do governo dos Estados Unidos. Vai abrigar animais que no cativeiro serviram de cobaias em experiências médicas, foram utilizados no programa espacial da Nasa e apareceram batendo palmas em programas de televisão. O chimpanzé, o parente mais próximo do homem na árvore evolucionária, é uma espécie em risco de extinção na natureza. Estima-se que existam 2.500 desses animais nos Estados Unidos, dos quais 1.500 estão em institutos de pesquisa. Talvez a metade desses já não esteja mais sendo usada em experiências. Um chimpanzé em cativeiro vive em média cinqüenta anos (na selva, menos de trinta). Mas em geral só são úteis em pesquisas até os 6 anos – daí em diante são difíceis de controlar.

Não havia consenso sobre o que fazer com os chimpanzés aposentados. Houve sugestões de extermínio puro e simples. Nos últimos dias de seu governo, o presidente Bill Clinton destinou 30 milhões de dólares para a construção do parque no estado da Louisiana, onde o clima é subtropical. Mais de trinta macacos já estão alojados no abrigo, que até 2006 deverá receber outros 200. Ali, em um complexo de 80 hectares, eles podem desfrutar a vida ao ar livre, comida farta e aposentos com aparelho de televisão – só não podem se reproduzir. Todos os machos são submetidos à vasectomia para evitar a superlotação no parque. O que mais parece encantar os macacos são as imagens e o som televisivos. Para os chimpanzés mais jovens, a programação consiste em desenhos animados, principalmente especiais da Disney e Pica-Pau. Os mais velhos preferem novelas e filmes de ação e pancadaria.

Cuidar dos chimpanzés é diferente de simplesmente oferecer proteção a qualquer outro animal. Há um fator psicológico decorrente da semelhança física com o homem que faz com que nos sintamos na obrigação de proteger esse primata como se cuida de um parente indefeso. O chimpanzé é um animal capaz de mostrar ao dentista o dente que dói. Estudos mostram que é possível ensinar-lhes conceitos matemáticos simples e que eles podem atingir a inteligência de uma criança de 5 anos. Há uma rede de santuários para esses animais – no Canadá, na Europa, na África e na América do Sul. Nos Estados Unidos, o Refúgio dos Chimpanzés é o primeiro mantido pelo governo federal e o mais confortável. Mas não o maior. Um santuário privado numa ilha da Flórida passou por reformas para abrigar mais de 250 chimpanzés de laboratório, o maior conjunto de primatas aposentados da história.?
Fonte:www.veja.com.br