Revista New Scientist on line, 20/05/2009
Eles podem ser estrelas nos shows, mas elefantes, leões e tigres são os animais selvagens menos adequados para a vida em um circo. A conclusão é do primeiro estudo global realizado sobre bem-estar de animais em circos. “Não é apenas um fator”, diz Stephen Harris, da Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha, pesquisador líder do estudo. “Ou é falta de espaço ou exercício, ou falta de contato social, todos os fatores combinados demonstram que a qualidade de vida é muito pobre se comparada à vida selvagem”, ele diz.
O estudo conclui que, em média, os animais selvagens passam apenas de 1 a 9% de seu tempo treinando, sendo que o resto do tempo ficam presos em jaulas, carretas ou recintos geralmente com um quarto da área recomendada pelos zoológicos.
Os mais afetados são elefantes, leões, tigres e ursos. Geralmente eles são confinados em jaulas onde eles ficam se movimentando inquietos de um lado para o outro por horas.
“Mesmo que eles estejam num espaço maior no circo, não tem enriquecimento no espaço, como troncos para brincar, pois há o temor de que eles os usem para quebrar a cerca e fugir”, diz Harris.
As viagens também causam danos, mas a evidência é limitada. A base de dados do estudo demonstra que a concentração do hormônio cortisol na saliva, um indicativo de estresse, permanece num nível anormal nos tigres por 6 dias depois do transporte, e por 12 dias em tigres que nunca tinham viajado.
Os itinerários podem ser muito cansativos também. Quando Harris e seus colegas analisaram 153 viagens de circos europeus e norte-americanos, viram que a trupe só ficava numa locação por uma média de uma semana antes de se deslocar para outro local, sendo as distâncias médias entre os locais era de 300 km.
Mesmo quando chegam no seu destino, os animais são mantidos em condições extremamente diferentes do seu habitat natural. Elefantes podem ficar acorrentados de 12 a 23 horas por dia quando não estão se apresentando, em áreas entre apenas 7 e 12 metros quadrados. Geralmente eles só conseguem se mover até onde a corrente permite, entre 1 e 2 metros.
Na vida selvagem, elefantes passam de 40 a 75% do seu tempo comendo, e percorrem até 50 km em um dia.
Evidências também mostram que elefantes, leões, tigres, ursos e até papagaios de circo ficam com movimentos anormais repetitivos, chamados de movimentos estereotipados.
Além disso, os animais ficam com a saúde debilitada pelo confinamento e pelos truques que são treinados para apresentar. Elefantes, por exemplo, ficam obesos pela inatividade e desenvolvem desordens reumáticas, sem contar problemas de juntas por terem que fazer e ficar em posições não-naturais durante os shows.
“Não há evidências que demonstrem que as necessidades naturais de animais selvagens e não-domesticados podem ser atendidas com as condições de cativeiro oferecidas pelos circos”, conclui o estudo. “Nem o ambiente natural ou o comportamento natural podem ser recriados nos circos”.
Embora as condições também não sejam ideais, as espécies mais adequadas para a vida em circos são as domesticadas há vários anos, como cachorros e cavalos. Cavalos, por exemplo, já se adaptaram a viagens por conta das temporadas de corridas.
Mas isso não é verdade para a maioria dos grandes animais selvagens. “É exatamente o que se pensa intuitivamente. Transporte excessivo, movimentação limitada e condições inadequadas resultam em problemas de bem-estar”, diz Rob Atkinson, chefe do departamento de vida selvagem da Sociedade Britânica de Proteção Animal.
O estudo ressalta que alguns países, como a Áustria, já baniram o uso de animais selvagens em circos, mas que esta ainda é uma prática em circos na Grã-Bretanha e Europa. Elefantes não eram mais vistos em circos na GB há 10 nos, mas 3 aparecem nos shows do “Great British Circus” desde fevereiro.