Esta característica é cada dia menos comum no ser humano, porém continua sendo muito comum no Reino Animal. No caso dos chimpanzés o agradecimento se torna, em muitos indivíduos, um padrão de conduta muito usual. Em nossa comunidade de Sorocaba talvez a que melhor manifesta este sentimento é Tuca.
Tuca é um chimpanzé fêmea de mais de 40 anos hoje. Sofreu muito, de circo em circo e de mão em mão de humanos, que só desejavam explorá-la sem dar-lhe as mínimas condições de vida. Seu corpo está cheio de marcas e cicatrizes, não tem dentes, que lhe foram arrancados muito cedo em sua vida, para poder usá-la mais à vontade. Tuca que deveria ser uma revoltada com a vida que levou, e com os humanos que a mantiveram baixo seu domínio, é um exemplo de agradecimento. Quando eu passo por seu recinto cedo de manhã, ao meio dia, com a refeição da tarde, ou no fim do dia, ela me espera, me estende a mão para sentir o contato físico e com suas gengivas sem dente, beija meu braço, num sinal de agradecimento.
Eu não preciso dar nada a ela, só estar lá naquele momento, chamá-la por seu nome, dar-lhe um afago em sua cabeça ou em seu rosto, ela sabe que nós a amamos, e que ela nos retribui com seus gestos e sons a alegria do contato diário. Tuca também faz o mesmo com todos os chimpanzés com os quais já conviveu, é dura e rígida quando deseja fazer a disciplina funcionar e meiga e carinhosa, quando deseja demonstrar seus sentimentos. Hoje, ela mora com Carioca, chimpanzé jovem do ex Circo Garcia, e Bruna, também do mesmo Circo, que tem uma especial adoração por ela. O respeito que ambos tem por ela é extraordinário, ela tem a última palavra e sempre tem a preferência.
Tuca nunca teve filhos, que nós saibamos. Porém ela adora chimpanzés bebês e jovens. Guga ficou com ela quando era bebê, e ela o cuidava como um filho e brincava com ele como uma verdadeira mãe. Após três décadas de sofrimentos e abusos, hoje Tuca é um ser feliz, conhece muito os chimpanzés do Santuário, acompanha os acontecimentos a distância de outros recintos, e sabe que ainda existem humanos a quem ela pode transmitir seu agradecimento e seu amor, que será retribuída.
Dr. Pedro A Ynterian
Santuário do GAP/ Sorocaba