Nuri: os gritos do silêncio
postado em 18 ago 2011

SANTUÁRIO SAVE THE CHIMPS

Nuri esteve até 1994 no programa de reprodução e até onde se sabe, ela passou os anos seguintes em isolamento. Quando Nuri foi resgatada em 2002, ela estava vivendo sozinha no “calabouço”. Seus joelhos estavam permanentemente atrofiados e tal condição não estava documentada nos seus arquivos laboratoriais. Logo ficou aparente que Nuri carregava uma angústia permanente dentro de si. Quando a fundadora do Santuário, Dra. Carole Noon, apagava as luzes no final do dia no calabouço, Nuri começava a gritar desesperadamente. Esses gritos expressavam solidão e pânico, um grito que dizia “não me deixem”. Com a resposta, voltávamos e tentávamos dar um pouco de conforto a ela. Nuri não chorava a noite toda, graças a Deus, mas ir embora ao final de cada dia se transformava em uma experiência muito triste para todos nós. Menos mal, ao longo do tempo, ela começou a parar de gritar quando as luzes eram apagadas.

Nuri nasceu em cativeiro no dia 21 de dezembro de 1966, no chamado Delta Regional Primate Research Center, em Luisiana (agora conhecido como Tulane National Primate Research Center). Seus pais desconhecidos foram identificados com números: sua mãe era n° 359 e seu pai n° 378. Os carrascos nazistas amariam este sistema de catalogar os nascimentos. Aos 14 anos foi transferida à Fundação Coulston. Era a compra n° 12 do triste carrasco de chimpanzés, o Dr. Frederick Coulston. De imediato a colocou para reproduzir, tinha pressa para vender seus filhos por muitos milhares de dólares ao NIH (Instituto de Saúde Norte-americano), que financiou até hoje todo este massacre.

Porém, o tenebroso Dr. Coulston não teve sorte. Nuri teve 4 filhos, dois morreram 24 horas após o nascimento. O filho Buckwheat morreu com 9 anos e a filha Ashley, nascida em 11 de maio de 1985, está desaparecida. Nuri também sofreu muitos abortos nos anos seguintes. Sua natureza não lhe permitia gerar mais escravos para serem torturados.

Nuri era tímida, mas delicada com outros chimpanzés. Ela tinha medo de locais abertos, não saía para fora e ficava em seu dormitório. Gostava de objetos, como chapéus, chinelos, carteiras coloridas e pequenos brinquedos, que levava de um lugar a outro. Ela nunca teve infância, nunca foi uma “criança”. Ela ficava horas em sua janela olhando e escutando os sons do mundo exterior, que lhe fascinavam. Os gritos do silêncio que viveu no calabouço anos a fio só ficavam em sua mente perturbada. Sua janela está agora vazia, ela foi embora, sua alma atormentada agora vaga para achar um lar. Talvez o encontre, longe dos humanos malditos que fizeram de sua vida um inferno.

Descanse em paz, nossa querida Nuri! …

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional