Na cama com o chimpanzé
postado em 24 maio 2006

Revista Época – Edição 418 – Maio/ 2006

Pesquisa revela que antepassados humanos CRUZARAM com ancestrais do macaco, há 4,2 milhões de anos.

A árvore genealógica humana acaba de ser embaralhada. Um grupo de pesquisadores americanos concluiu que, há cerca de 4,2 milhões de anos, antepassados humanos cruzaram com os ancestrais dos chimpanzés. Isso significa que os primeiros hominídeos com características distintas das dos macacos, como bipedalismo, teriam sido apenas uma tentativa abortada de divergir do ramo dos chimpanzés. E não nossos ancestrais diretos.

Para concluir isso, os cientistas, da Escola de Medicina de Harvard e do Broad Institute, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), compararam o DNA dos homens com o dos chimpanzés e dos gorilas. Segundo eles, uma separação inicial entre as duas espécies teria ocorrido por volta de 5,4 milhões de anos. Esta primeira divergência entre as espécies, no entanto, não teria sido definitiva. Aproximadamente 1,2 milhão de anos depois, os ancestrais de homens e chimpanzés teriam voltado a manter relações sexuais, gerando filhos férteis.

Desses cruzamentos teriam nascido seres híbridos que sobreviveram e foram capazes, segundo a hipótese dos pesquisadores, de novamente cruzar com hominídeos e chimpanzés. O resultado dessa miscigenação teria ficado registrado em alguns trechos do código genético de homens e chimpanzés atuais, que apresentam grande semelhança.

‘Em termos de tempo, estamos mais próximos dos chimpanzés do que acreditava a maior parte dos paleontólogos’, afirmou a ÉPOCA David Reich, um dos autores do estudo. ‘A separação das espécies humana e dos chimpanzés foi complexa e durou um longo período, com episódios de hibridização entre elas’, diz Nick Patterson, outro autor do estudo. A DESCOBERTA DEVE REFORÇAR O ARGUMENTO DE BIÓLOGOS DEFENSORES DA INCLUSÃO DO CHIMPANZÉ NO GÊNERO HOMO. ATUALMENTE, O GÊNERO TEM APENAS UM REPRESENTANTE VIVO: O PRÓPRIO HOMEM.

Os pesquisadores não sabem qual foi o hominídeo ancestral do homem que realizou a reaproximação com a linhagem dos chimpanzés. Mas supõem que teria sido o Sahelanthropus tchadensis, mais conhecido como Toumai. É possível que uma parte dos Toumais – a que cruzou com os chimpanzés – tenha evoluído para o que virou a linhagem humana e outro ramo tenha caminhado para a extinção.

O estudo, publicado nesta semana pela revista científica Nature, tem outras revelações polêmicas. Reich e seus colegas afirmam que entre 18% e 29% do genoma humano é mais parecido com o do gorila que com o do chimpanzé, até agora apontado, junto com os macacos bonobos, o parente vivo mais próximo dos humanos. ‘Determinar se o homem é mais próximo do chimpanzé ou do gorila é uma discussão antiga. Devemos ter uma resposta em breve, assim que o seqüenciamento do código genético do gorila estiver concluído’, diz Walter Neves, antropólogo da Universidade de São Paulo.

Em relação aos bonobos, Reich também tem feito estudos e promete novidades. ‘Fiz análises, mas a pesquisa ainda não está publicada. Até agora os resultados encontrados são bem diferentes’, afirmou. De qualquer modo, ele e a equipe estão certos de que a separação de humanos e símios foi um processo diferente do que se conhece na natureza. ‘Já sabemos que não foi uma simples separação de populações’, diz Reich. ‘Mas pode ser que nunca tenhamos descoberto nada assim na natureza porque nunca procuramos por isso.’

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0%2C%2CEPT1198886-1664%2C00.html